segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Que falta faz Bacamarte, aqui na Terra.

Libertaram os poetas! salve-se quem puder!
é um deus-nos-acuda e ainda um sei lá:
eles abrolham das praças, brotam do chão e do nada,
chovem em dia de sol - quando ninguém está de guarda-chuva -
aportam nas portas e ancoram nos portos
apontam e despontam e assim procedem,
dominam a cidade e tomam o governo,
retiram os cartazes e queimam as bandeiras.

O povo, em caótica, decretada calamidade, exclama:
- "Nada tem sabor para eles! ingratos sem raça!
despregam e relegam, pelegam injustos!
essa gente astuta e capciosa! esses tais de poetas!
são loucos! loucos psicopatas de excêntre-recesso!"

Estabelece-se a bancarrota humana, a ruína:
- "Nós, poetas, determinamos a partir desta e de agora,
que o mundo parou! não haverão mais Estados, não haverão mais fronteiras,
não haverão mais nomenclaturas! A modo que tudo é um e de um se forma o todo.
É o fim dos objetos e das coisas, dos artefatos e artifícios.
Serão fechadas todas as congruências, serão fechadas todas as conveniências!
Viveremos só do que nos cabe nas palmas das mãos.
A partir desta e de agora: ninguém é poeta e todos serão;
e seremos o que sempre quisemos ser..."

E foram "ohs" e "ahs" para todos os lados; mais exclamações:
- "Como?! Qual?! Isso é absurdo...!"

Pois que assim seja, porque nesse poema, os poetas são eu, e o poema ainda mais meu:
O que não dura, domínio e predicado, descai, se apaga e desbota,
abrandam-se e se extinguem, são expungidos lentamente,
pelos novos desígnios de idealidade;
- Há tempos se esqueceu o que é posse,
e o ser humano sabe até amar melhor. -
Os países todos convergem para um só, e enfim, o mundo!
Aprendeu-se tolerância e respeito, e melhor ainda,
aprendeu-se a aprender o outro; apronta-se humanidade.

Que finda em completa revolução, de manifesto versado,
regida poesia, poemática, em demasiada poematização:
- "E no fim, não eram tão loucos assim, os poetas..."

Um comentário:

Carol Monique disse...

Doce utopia externelizada em versos e palavras bem selecionadas. Quem dera fosse essa proposta uma realidade.

"Viveremos só com o que nos cabe nas palmas das mãos". Imagine um mundo assim? Nada de soberba, violência, hipocrisia e todos os males que emanam do desenfreado capitalismo que corrói almas.

Sim, o homem amaria melhor, seria mais gratos, observaria mais e mais as coisas boas que a primavera têm a oferecer.

Com disse Maquiavel em sua principal obra, O príncipe: O home esquece mais rápido da morte do seu pai do que de uma perda material. Que tipo de ser humano é esse?
O que é mais importante?

E depois ainda usamos o termo maquiavélico para designar atitudes de outrem...

Monique, verão de 2008