sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Abrir o verbo

A abertura do verbo é uma cirurgia linguística.

O único verbo que é qualquer coisa de truncado menos de aberto, é o verbo que soa som-ressonante na cidade do Brasil. O que me faz duvidar que seja português...

(...)


pra rasgar o verbo logo de cara

fora da cidade
vem o ano
que vem
agora

escrevê, fa
zê, po
e
tá Dá,
dá qué,
fa
zê fa

e
poe


já na cidade
vem o ano
que
viria veio
mas não
foi ontem
foi
mas não
veio

ca
dê cadu
co me
çá
ranhá
pra
brí o ver
bo des
de





Leandro Paixão e Rafael Jambas

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobre som e silêncio (primeiro desenvolvimento)

A palavra é a quebra do silêncio que é inércia de um eco surdo que se repete e repete e repete em nada que se movimenta. O silêncio envolve todos os sons e signos, é o conforto das palavras. Na sua ausência-mais-que-presente o silêncio paira no te-dizer te amo, e o amo é o rompimento do vazioio que era amor em princípio.
A palavra é turbulência do vazio-cheio perfeito. A palavra é o serzinho humano que travessa um mar horizonte de existência.

Leituras.

Tem uma pessoa lendo um livro.
E dentro da infinidão contraste tudo nada
tem uma pessoa que lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
.
.
.

Uma infinitude de pessoas leêm-se mutua-infinitamente.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Enchente

as marginal alagada
a Cidade o caos
nas marginal alagada

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Saber-se homem depois de ter-se perdido como homem. (por enquanto sem título)

No banheiro público tem um zunido agudo quando a urina toca a louça e a palavra branca que assusta. Eu tenho medo da palavra branca aguda louça, chapela, interioriza. Passaram vinte, não! uma hora! não! nem um minuto a mais. Mas o zunido congela o tempo. E a louça. Sentado sobre o momento de dois ou mais segundos um fato. Do respingo cobre-dourado, na verdade amarelo-neon, da urina na louça e o silêncio de um zumbido! É o tempo que se tem às vezes para respirar. Mesmo que seja o ar sujo da louça mijada. E não exige nenhum ponto final, em todo caso.
Foi se aprofundando, mergulhando como sendo a louça branca e lisa, impenetrável de palavras. Conhece o interior de todos, a sua filosofia. Sabe quem olha para o lado no banheiro mas olha toda vez sempre a frente sempre, e tem medo de palavras brancas. As palavras brancas são todas as cores que não formam nenhuma, a presença ou ausência de todas. Reflete o que lhe é imposto, mas é impenetrável. Como a louça. Mijam nele. Ele não tem identidade, é branco. É um rato doméstico, branco e bonito, mas impenetrável, nunca saberão o que se passa dentro dele. Ingênuo e não. Todo aquele cheiro o envolvia e adimirava, todo sem cor. E era ali como numa bolha - suja - que respirava. O mundo parecia tão real ali, e o rato doméstico se conectava com um passado ancestral de bueiro. Seu rabo quase chegava a crescer. Mas respirava e no momento que o ar lhe tocava o nariz, naquele instante, não despertava olfato, pois o fluxo invariável como que empurrava o cheiro para longe, até que uma nova onda de ar lhe tocasse o fucinho. Rabo não criava não, mas que tinha bigode tinha. E sentia toda a pureza daquela atmosfera. E ali não tinha medo. A porcelana não lhe ia julgar se sim ou se não, e além do que, também era ele uma porcelana, a do lado, a não mijada ainda, olhando sempre em frente em sua marcha estática. Sendo uma porcelana de mictório ainda não tinha a preocupação das privadas com as fezes e todo o lixo lançado dentro, até o momento em que - um dia - se daria conta de que todas as porcelanas são interligadas pelo interno das paredes e que por dentro de todos os concretos se tocam. Quer dizer, o que uma recebe a outra recebe imediatamente. Talvez não o sinta, mas recebe. Nesse espaço entre o tempo e a bolha de pensamento em que se encontrava não sentiu-se mal. Sentiu-se homem, humano. Sabia o que era a louça. Conhecia o homem. Sabia de onde vinha o lixo. Estava dentro do lixo, como homem, não como louça.
Seu telefone toca e o desperta. Já terminara o que tinha ido fazer naquele banheiro e se deu conta de que estava imóvel em posição de como se estivesse mijando por um longo período, que durou dois ou mais segundos. A porcelana tem a sua própria cronologia. Assim também o homem. Seu telefone o faz se sentir mais porcelana que antes. E talvez ele tenha se dado conta, ou talvez não, o que tenha sido dito pelo seu rato interior mais ancestral. Bicho que vive em bando, se aquecendo em grupo no interior dos esgotos. Talvez isso o tenha tornado mais homem. Talvez isso teria ficado claro se ele tivesse jogado o seu telefone no lixo. Mas não o fez, naquele momento não o fez.