quarta-feira, 26 de maio de 2010

O começo é sempre o difícil. Pensar sobre o quê e o como, talvez criar algumas passagens interessantes, outras insignificantes, limpar tudo que é excesso - a mente fala demais. Criar um poema ou uma tese e antítese de elocubrações sobre a beleza desabrochada da primavera ou sobre o por quê da arte na vida do ser humano. Fascinante como o descontraído e imperceptivelmente trabalhoso bater de asas de um inseto de luz, e especificamente aquele inseto de luz, que é uma espécie da companhia necessária nos momentos de solidão. « He is even teaching me spanish, o tal vez el francés ». Aquele inseto de luz sou eu, rondando os feixes como um peixe nada num oceano, rondando a luz como que invejando um xamã que atravessa a imensidão das coisas. Num suave bater de asas poliglótico, infinitamente asas e só, num todo muito complexo que é mar, ar, luz, infinito, absoluto. E eu apenas asas e só.
Até que um sino me desperta. Vibrando todas as células das minhas emoções, porque eu só posso falar de mim. E não sei de mais ninguém. Eu sou um personagem amarrado no voar dos insetos de luz. Com a boca amarrada no desvelamento da vida, além dos barulhos desse mundo, além do que me rodeia. Com ossos de uma solidão incrível. Posso até alcançar o teto, mas cessa.
Fui sentindo quantos músculos funcionam para manter a minha cabeça ereta. E deixei-a cair.