domingo, 30 de novembro de 2008

Dizemos

De tão exposto já não molha mais
a cabeceira do morro pelado;
Lá onde as entranhas da Terra estão à mostra
pela falta do asfalto-negrume,
ranchião-cachaço, de melaço-de-cana,
a fome opina de lá, grita
gira seu preceito-conceito
retentiva campestre
de sua e de outra.

O mel madeirado
dimana sangue fluido
em trilogia das cores
coisa bandido abolido que foi,
a cano frio de arma dura,
um sopro que fosse
o gosto de mudar.

Não sei mais nem-quê,
nem-como, nem-porquê.
O que hoje foi dito,
dize, o de ontem
dizeu, e o de amanhã
dizerá.

Fresta de liberdade

Que posso eu
fixo 'em aleatoreidade,
em signos sinônimos
sintomáticos, da mazela
maleita guerreira
de nação-torrão
zueira zangibeira
de senhor-velho-ancião?

São estes sulcos arados
de presságio aparente
agouro-endêmico
de fornalha-mortalhada
de um inteiro país.

Perde-se em língua em tom
de desfeita abobalhada
a desgraça folgazada
sobre a expectativa de toda a gente.

E que há? de fala falaz
se convence, própria da mente
assina a gente demente
ardilosada-capisciosamente
em sua mais desilusão
confiada do alto qu'vem.

Mas haverá, de poderio,
ariçada a raiva quente,
quando a descoberta
se deparar ao achado
e publicar seu desvairado
penteado-que-rege-o-mundo
encarapitar a foice e o martelo,
após derrocada a bandeira de deus
alucinado de povo pirado,
de se confiar esperança?

Mas há, sim qu'há!
Antes d'o planeta parar de rodar
já se vá aspirar o ar da liberdade
tão lânguida nesses tempos
e nessas coordenadas,
que só por uma fresta fugida
nos coube uma vez ou outra atentar.

sábado, 29 de novembro de 2008

Sério-sério

Criação farsetária
falsária, falsa, reaça
ação fracionária,
fim do poema
em dois em mil...

Em uníssono, coaxado
ramo coalhado de Roma
criado-Estado-tramóia-treta
caí no conto-do-vigário de má-fé
sem parar de velhacos surdinos
no mundo de tudo.

Desfalcado improibitório
dessa nação-zumbi, nos zomba
o logro do pobre-zombado e cara-cuspida
o rombo fraudulento
de governo-estelionato.
Rematado terror de cidadania,
pacote-aprontado, embaixo do tapete.

Enfurnado sarapalha saratantas
sarapatel de trombetas moucosas.
Surdantas e tantas outras,
de tanto alento,
fique atento,
ao atentado.

Fôlego de saudade

Ainda ressoa sua voz em eco
em longe em certo, ou mesmo perto
perpassando fios e até cabos
que cruzam o oceano
e levam seu tom penetrante
que acaricia exclusivo,
o auditivo de todos os meus sentidos.

É o que podemos, em tempo,
pelo que se mostra o espaço
distante, um bloco de nota
vibrante vocal, que anestesia
pelo menos um mínimo a saudade apertada.

Enquanto não podemos
com a mágica da língua,
em u em beijo em gosto
nos desfazermos em saliva
migrante, dentre lábios
que se abocanham carinhosamente
unidos em uma só boca,
há um nímio de imaginação
que ressalva aguardar.

E esperamos. Até não aguentar mais
o peso da vontade própria do querer.
Apetece o beijo apalavrado,
que anuncia a sua chegada
e a versada revivência
dos outros quatro sentidos
acobardados pelo apenas eco da sua voz.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Prazer palavreado

É pelo prazer do sexo
que desalma e desanda
como por um orgasmo
e que ama ainda mais...

Abriga e descamba
longe do lúcido,
a razão-de-cego
puro-tato.

Além da alma,
viajem do corpo
pelo corpo
de outrém.

É onde se perde.
E ganha mais que o próprio,
reganha todos os sentidos.

Conotação versante-dançante da palavra
- subjetivação total da mente sinestésica.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pesadelo.

Daqui de cima tudo parece ironicamente mais claro.
O alto. O fim das papilas que são dor.
A droga que extasia o tempo nessa noite fria.
Mergulhado com os olhos numa meia-lua que dá as costas ao mundo.

A voz sonolenta do telefone não acolhe.
As janelas esparsadamente acesas dos apartamentos da cidade
riem debochosamente da uma aflição.
Sádica, a luminosidade de um deus que não existe.

Inclino-me prontamente para o mal da madrugada.
Uma brecha entre a anestesia do cômodo e a dificuldade de ação.
Sensação de vida morta!

Esse é o primeiro sonho consciente
de uma enxurrada, que atravessa desbancando por onde passa,
casas e morros e palavras inteiras.
Vai sujando todos os caminhos
com o rastro das minhas mãos sujas de sangue.

Desço o telhado para o desfecho da noite,
Deslumbro a lua, o céu, a dor,
Grito sozinho na cidade desmaiada em desvario.
Mas não consigo acordar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Farol amarelo.

É tarde pra uma segunda-feira.
Caminho. Pela história de tudo
A construção dessa Avenida
Ou dessa boate que frequentava aos 15.
Jazem sobre a superfície irregular do mundo.

É sem-forma
O espaço abstrato da fôrma
Onde se modelam meus pensamentos.
E estes surgem de um papelzinho amassado
Que tiro do bolso da calça
Nessa segunda-feira de madrugada.

Tudo tem sua história.
E a minha se faz, em meio à derrotas Pírricas
É um exagero. Vivo sempre intensamente.
Das penas que me agradam
E das chuvas que me banham.

É só um farol amarelo.
Onde não se sabe se vai ou se espera
É só metade do caminho...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Rascunho salvo at:

Dialetizando o enigmático da língua.

Please save me! O mundo está drowning, nos afogando...

Sufocando o que resta, do cérebro.
Brainstorm...

I want to scream, mas não consigo.

Misturando o útil ao agradável.

Problematizando o futuro...

O que restará de nós? Ou melhor, who?

Não há tradução para este tipo de pecado.

Ne pas de problème.

domingo, 16 de novembro de 2008

Louco mover

É esse som que me locomove.
Som de loucura, de trem, de avião;

O som dos loucos que se movem
Quando ninguém mais tem esse direito,
Só cavamos mais fundo na cidade.

É tudo mentira nesse formigueiro,
Contadas em cédulas de R$10.

E esquecemos da pele,
Dos olhares que se desencontram,
E ficam divididos pelas gotículas de chuva
Que escorrem pelas janelas dos ônibus.

Embaçam os faróis de trânsito
Que piscam a teoria do caos
Para motoristas que não mais se enxergam.

Mas algum dia a cidade se revolta.
Eu espero...

domingo, 9 de novembro de 2008

Cinza

O real e o não real da arte
A palavra. Subjetividade.
Somos todos subversivos.

Não atendo telefonemas.
Nem respondo cartas.
Num palco me resolvo...

Tenho levitado algumas vezes.
É o sangue que tem corrido mais rápido.
É o córrego de lágrimas.

Quem dá sentido pras coisas somos nós.
Queimo papéis. Não são pra mim...
Faço o mundo girar mais devagar.

Ainda gosto de subir em árvores...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eco mudo.

O eco ecoa seco.
surdo o eco preto soa
seco, surdo, mudo

Ecoa secamente o eco seco cortante
seca e asfixia ainda mais a garganta
há muito tempo seca e cerrada

O eco de tão seco não ecoa
seca a palavra cai pesada
na superfície enganada do papel seco

Por quais paredes de qual caverna se esconde o eco
que acaricia os prazeres do tempo
com suas mãos de cascalho

eco.