quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ansiedade de lua.

Recurso de halo
Lua de fel
Insólitos sonhos e poemas
De conversas que começam e terminam em nada.

Pleitos vazios de sim e de não
Litígio sobre o amor
E de como nos deixamos afetar
Pela sensível barreira da distância

Habitante da pronfunda complexidade de ser humano
Devaneando sobre a complexa profundeza de amar

Engulo a madrugada regada de lágrimas
Que afogam lembranças de prazer e gozo
E guardo estes anseios que me sacodem até a alma.

Esclarecimento

Recessão! O mundo surta calamidades econômicas, ambientais, sociais.
Caminhamos contra a parede (?)
Tamanho livro, peso, humano.
O asfalto nunca pesou tanto... Mas o movimento se sobrepõe ao tempo.

O ritmado compasso relógio
Marca o passo marca-passo do cotidiano da cidade doente
Que atinge fatalmente o peito ensanguentado
A tiro de bala de arma de fogo das favelas
Complexo reflexo da desorganisação social.

E continuamos esperando...

Até quando?
Na História está a força das divertidas derrotas...
E que fique claro que não tememos o que não nos é natural.
Porque ainda é proibido proibir, e tudo o que é pessoal continua sendo político!

A dedicação se volta, hoje, se não para trazer o sorriso de volta para a humanidade
O sorriso de quem o procura. Pois sempre estará aí, o ar que nos atiça a chama da vida.
E temos o fogo para queimarmos quantas bandeiras forem precisas.
E há paralelepípedos para barricadas. E há muita gaze para o sangue...

O que me intriga é se há ainda alguma dúvida, ou se tampouco faltam motivos,
Para acreditar que o Mundo está girando ao contrário do planeta...

Carros...

Vaga-lumes brancos do tráfego
de linho e de máquina,
da pura invenção do homem
em sombra de som
e amplificação do todo.

Ronronar de combustão imediata
pistão que explode em seu tempo de milésimo
em sobra da mais perfeita precisão.

Desloca-se a insignificante fragilidade humana...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Manhãs e mais.

Nada mais,
do que um poeta mergulhado em si
- num seu profundo ócio criativo -
contempla tanto além
de rosas findadas ao seu objetivo final, de murchar.

Muito mais,
do que uma textura matiz e suave
que absvorve para si toda luz em cor
e atravessa com infinito poder
uma íris distraída.

Sem mais,
existem palavras. E o que antes era cor, luz,
ou imaginação, ou pura ternura,
ocupa demais um coração,
e por isso tem necessidade de transbordar.

E jamais aquela rosa,
dotada da pura e única magia da existência,
será vista como apenas uma rosa.
Mas como uma colorida e intensa
e necessária tecedora de manhãs e poemas.

domingo, 12 de outubro de 2008

Madrugada.

Dado o poema como um bloco de mármore a ser esculpido.
O poeta usa a língua como sua ferramenta.

Num canto solto moderado
reflexivo compulsório da realidade moral.
É a verdade que o assusta. É o pensar o falar o resentir.
É o resignificado da coisa.
Seu céu é um espelho
e o poema o além.

O fundo verde emparedado que o cerca
porta-berimbau, pau, porta-chocalho
sacode o mundo chão, tapete torcido pelo passo
apressado, embriagado de incenso e perfume e saudade.

Potência em watt do mundo falando ao mesmo tempo
não o esquecerão, quando tudo for mais belo.
Uma simples estante suporta um breve conhecimento de todas as coisas.
Leciona maldade e alegria, alienado.

Já se foi o tempo dos sinais, é madrugada.
Volta no centro da cidade vazio musicada por Tchembo
num mundo de fragmentados desencantos.

Os pingos da chuva suavisam a densa madrugada
e encobrem suas fantasiosas quimeras fugidas
que continuam pensando os eternos filósofos que ninguém nunca vai ouvir falar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Direito

Mais um dia se passa...

Mais uma cidadania passa.
Mais uma cidade.
Mais uma.
Mais uma.

Mais um cidadão passa.
Mais um direito.
Direito.
Direto.

Envoltos em suor e sono,
as engrenagens da cidade
exercem seu último direito:
apaga a luz e dorme, apaga a luz e dorme, apaga a luz e some.

Ainda há...!

Peço-me a mim mesmo para escrever.
Como um poeta fluido, me desvanecer na brancura do papel.
Deixar tudo chover. E enfim desgastar a minha angústia,
agora então vivida.

Angústia com o real, com o que criamos, que asfixia, por saber que é nosso.
Com a teoria, que por assim ser, não é prática.
E mais tudo o que envolve essa fastidiosa noção

Num embalo festivo,
alço velas em direção a poesia, que ainda se forma em nuvem, acumula.
Que troveja, fugente, se mostrando de longe. Empunhando gravemente a alegria de toda gente.
Que ainda há de vingar...

E há de destruir tudo o que sufoca.
Há de diluir o desprezo, a náusea, o vômito.
Há de enfrentar a tediosa inércia que faz girar o planeta sob a sombra escandalosa do lucro!
E altivamente declarar a definitiva bancarrota do sofrimento...
Acabar com a angústia.
Que ainda há de findar...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Fluição.

Tenho alguns surtos, de alguns instantes
- espero que durem -
em que tudo se encaixa.
E escrevo sem pensar sobre todas as coisas.

Esqueço-me do que é coesão, sentido.
O que é continuidade? Isso aqui é emoção!
Canto, e tudo me agrada.
Só me falta sair saltitando a colher margaridas...

Nem a chuva, nem a hora - porque é tarde -
interrompem o processo de (des)criação nesses instantes.
Por isso não duram...Quanta insensibilidade ao meio!
Não sou assim...mas estou sendo. E estou gostando.

São surtos, são momentos
- apaixonantes de mim -
A poesia se faz, e brotam de todos os lados os poemas imaginativos.
O pensamento se esvai, e tudo flui...
A arte, o surto, o tempo e a vida.

Instantes.

Quero todas as palavras.
Porque hoje estou livre de crises.
A realidade não me assusta mais. E que isso dure pelo menos alguns instantes...
Hoje é tudo marasmo, paradeiro, pique-pique, alegria alegria.

Quero tudo o que é palavra. Quero vozes.
Quero toda a liberdade do mundo - se é que tal coisa exista.
Se não existir, quero eu como sou. Porque sou livre. Pelo menos nesses instantes...
Porque sou bicho, homem, cavalo, circo, céu e vida. Sou mais arte.

As palavras me querem.
Sussurram aos meus ouvidos, tanto que não consigo ouvi-las.
De tantas, me perco na escolha - porque já sou ruim nisso.
E escolho todas. Tudo que é som, signo, cor, sentimento.

Pois nunca fui tão cubista e estive tanto fora de um cubo...
Porque é tudo forma, é tudo palavra. E é tudo língua, porque é tudo pensamento.
E é tudo ego, alterego e superego. E nada de trio é tão chato.
Nada que enquadre é tão chato. Fora matemática...

Porque os números são palavras, quando quero que sejam.
Dois, sete, oito dezoito. E fiquem de lado os cálculos, me perdoem.
Hoje só quero palavras. E que sejam de aniversário vinte e seis de maio,
ou de festas do eu inteiro de branco trinta e um de dezembro. De todos os anos...

Hoje, eu já disse. Quero todas as palavras, porque elas me querem.
Quero todas as palavras livres, que façam a farra, sem forma cor ou conteúdo,
saltitando pelas mentes brilhantes, fezendo cabeças, poses, imagens, frutos, flores, folhas e rumos...

(Re)falado.

Já não compreendo mais
todo esse melodrama, toda prosa e poesia
e toda essa arte concebida sem vida.

Sejamos cubistas. Sejamos dadaístas.
Inventores do nosso próprio descaso.
Recaso. Inventores do nosso próprio falado.

Digo olá a forma. Brinco.
Brinco e flerto com ela,
que me desdiz pela fresta da virtualidade do monitor.

Cadê aqui a seta?
se (seta) ser (seta) só (seta)...
Refaço. Tudo envolto em círculo.

Libertemos o nosso cheiro de circo.
Nosso bafo de animal selvagem enjaulado,
com a cabeça do domador dentro da boca aberta...

É só querer.
A cabeça está aí para quem quiser usar.
A nossa e a de outros. Mas a arte. Há arte.
Tudo num círculo só.

Assim mesmo.

Sei que existem pensamentos inconclusos,
e espaço para que se construam.

Sei que existe loucura
no desabafo do espaço que se expande.

Sei que fico meio perdido,
e me confundo em minha própria imensidão.

E para que venho, será outra vida
refletindo os mesmos começos?

As mesmas pessoas
repetindo os mesmos erros?

Assim sou eu mesmo.
Mesmo que não saiba quem sou...