quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Poder de mim

Essa noite nem fria nem quente
me invade com um sono que não dorme
que é talvez a poesia insone
de coisa que não se fala.
- Você está dentro de mim como uma fome
que chegou com pouco interesse e muito encantamento.
E tem o poder de ser tudo aquilo que eu não conheço em mim.
- Tem o poder devastador e quieto de ir além de mim.

Momento seu.

Deixou marítimo, deixou
a roda tão doce, numa seresta
a flor cirandou
com euforia do desconhecido
sobre o silêncio do tempo

Deixou tudo assim tão suave
leve, pluma,
cortando a água do mar, martírio
é o delírio imaginário
de existir sem pensar
de ser o tempo
dentro do próprio tempo.

Mulher

É fácil deixar a vida que corre louca e breve lá fora para pensar em você. Mais fácil do que eu queria, talvez. Porque eu descobri com você que a vida pode ser muito mais louca e infinitamente imensa, adorada de noite como o prazer e enfim a vida, uma vida que é um elogio. Aprendi que tem muito mais vida em um beijo, e ainda muita vida na espera. Aprendi a admirar a paciência e a calma e a serenidade de um orvalho que cai devagar e belo.

Aprendi muita matiz e cor entre dois pólos, e que entre o riso e a lágrima existe um milhão de sentidos. Como quem tem todo o poder do olfato aprendi que o sabor das rosas se difundem no ar. Navegar neste céu e mar que é você, com um balanço entre inseguro e certo tal me é o horizonte, pode ser. É mais do que eu previa para mim.

E quando à noite você chegar e tomar dela o calor para o seu frio, me balançar nos seus cabelos embaraçados pelo prazer e dormir no seu colo arrepio, muito me arrepio. Como um menino que é em si o mais homem dos homens por ter conhecido você mulher.

A noite chegará então vampira com você sempre nos sonhos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Antigos sonhos de um antigo caderno VI

A gleba da noite quente

As estrelas derretem neste céu de verão
sondam um comércio de tempo no espaço
mercado negro de primaveras
em pleno calor de veraneio

Chovem janeiros, anos inteiros
no tráfico de tempo dos buracos negros
negociando planetas com versos febris
enganam a gravidade com conversas sutis

Antigos sonhos de um antigo caderno V

A noite está quente
faz toda gente roer os dentes
entre uma virada e outra
na cama que a poeira e poeira e só
navegando pensamentos distintos
de qualquer temperatura.

Antigos sonhos de um antigo caderno IV

Cada espaço canta
seu próprio encanto;
se recanta encostado
recosta e redobra
essa manobra recatada.

Doida-de-ver ao relento
dá-de-ré, relento todo
e põe-se a pôr dia de novo.

Antigos sonhos de um antigo caderno III

À o João.

neste
digo-não-digo
condizente
peço, redigo, digo: tento
arrelento, retento
ao relento desdizente da tarde vazia
em que preenche o sentido
cada vez mais aprofundado
desse teu abismo

beijo de morcego
piada sem tesão
poema reluz
porta de avião, sem brilho
em vão
tente se encontrar
nesse poema elucidário
escrito em binário, relicário
imenso estuário de palavras
de um aquele João

Antigos sonhos de um antigo caderno II

Desvaneio

Tudo se desvanece
e chove
jun
to
co
m a
ch
uv
a

Cada gota, uma a uma
- essas maestras da poesia -
tudo se desvanece

Levam consigo o pranto
deixam seu encanto
que ch
ove
ju
nto
com
a
c
huv
a

Proíbe o proibido
água no umbigo
qu
e
chove
jun
to
co
m a
c
hu
va

A lua da cidade
que se reflete na rua
tudo se desvanece

Os passos escorregadios
chovem também e se
esquecem
jun
to
c
om
a
c
hu
v
a

A janela derrete
e com ela a saudade se esquece
Tudo se desvanece
e
cho
v
e
junt
o
co
m
a
c
h
u
v
a

Antigos sonhos de um antigo caderno I

Alguns problemas por falta de identificação com a matéria.

Falta o barulho da máquina de escrever
para embalar os sonhos deste poema
caíamos nós no embalo da rede,
amparada em tradicionalíssimos
festivais de celebração
da futilidade humana...

Embora roubamos robalos
é para matar a fome.
Sentimo-nos traídos
pela
própria
carne

O caderno grita suas decepções mas ninguém o ouve!
na rua lotada
cheirando a álcool e meu vômito
somos traduzidos num mingau de erros
na elaboração concreta de uma arma
mais eficaz contra nossos próprios defeitos

A poesia é meu abrigo
onde me refugio de mim mesmo e
de todas as possibilidades de me perder
da minha própria humanidade

quem se importa quem sou
Ninguém se importa com alguém
e quem remói a sua própria frustração
?

A tinta me surpreende por sua fração
A língua pela aliteração
literalmente
estamos nos perdendo de ti, Caeiro

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tevê e vê.

estou chocado com uma piada que li
ah não não era piada era verdade e é
o jeito mesmo é cobrar

quem sabe

olhos internos na gaveta homicida

vasculha culha culha
velha velha idéia
esculhamba
nó de garganta
que nos faz calados
frente ao ódio inerte
que a televisão mostra e não vê

domingo, 6 de dezembro de 2009

Controle.

Mãos inchadas
e olhos doloridos do sono

Acordo como quem faz guerra...
Fazer acordo com quem faz guerra

à espera do ano, fica pro ano
a vida sem presente

O melhor presente é fazer,
às 12:30, o que você nasceu pra fazer
neste país.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Parir Caeiro

Estou parindo Caiero
Só parto.
A dor não é parte do parto
parto é parto dor é dor.

Dadá

Restaura
Papel-higiênico
- Dadá
.

Insônia

À noite
a ansie
dade vem
como de
pára-
q
u
e
das

(À noite
num êx
tase
de gozo)

A hélice
de um
heliinseto
repousa.

O dia acorda amanhã cedo
O dia acorda quando a noite dorme no horizonte

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Míope a lua

A lua era como o poema da cabeça
A lua não era poesia apenas era lua
A lua não era sem ser o brilho amarelo das estrelas
A lua era a estrela mais brilhante

Apaguem as luzes dessa cidade
que a lua engole

- a lua era lua-de-despedida -

Um Titã esboçado à boca do céu
Será Selene procurando por Endimião?
(ocultas as suas cinquenta crias sob a sua fase mais potente...)

Preso à beleza do contorno e do contraste
perco o bonito do desfoque
causa tuas lentes minha cegueira
do mundo que é belo e nem sei

Me descreve? como prum cego místico
e velho das coisas como é o toque natural
entre a face da lua e a noite
que se misturam em um outro tom
este o qual nós dos olhos sãos
vivemos sem ver

Lua meu pagã.

Nunca tinha tanto ao eu selvagem

Ao som dos atabaques
No a
fro

t
mo
Bra
sil

Que era mais
era uma bandeira
a bandeira éramos nós

Falava já d'antes até conforme, pois que sim, todavia

nunca tinha pertencido ao que dizia
e dizia assim, quase querendo acreditar

Mas a lua de Ogum que é também São Jorge e o nome de meu santo e minha tristeza pagã
que antes me possuía sem eu sabê-la
A lua que é água prata congelada em torno do céu
sei-la como natural e humano
Com a razão e vóz que sou sendo, o grito animal que clama novamente a terra e vida e o bicho a que infinitamente pertenço

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Abrir o verbo

A abertura do verbo é uma cirurgia linguística.

O único verbo que é qualquer coisa de truncado menos de aberto, é o verbo que soa som-ressonante na cidade do Brasil. O que me faz duvidar que seja português...

(...)


pra rasgar o verbo logo de cara

fora da cidade
vem o ano
que vem
agora

escrevê, fa
zê, po
e
tá Dá,
dá qué,
fa
zê fa

e
poe


já na cidade
vem o ano
que
viria veio
mas não
foi ontem
foi
mas não
veio

ca
dê cadu
co me
çá
ranhá
pra
brí o ver
bo des
de





Leandro Paixão e Rafael Jambas

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobre som e silêncio (primeiro desenvolvimento)

A palavra é a quebra do silêncio que é inércia de um eco surdo que se repete e repete e repete em nada que se movimenta. O silêncio envolve todos os sons e signos, é o conforto das palavras. Na sua ausência-mais-que-presente o silêncio paira no te-dizer te amo, e o amo é o rompimento do vazioio que era amor em princípio.
A palavra é turbulência do vazio-cheio perfeito. A palavra é o serzinho humano que travessa um mar horizonte de existência.

Leituras.

Tem uma pessoa lendo um livro.
E dentro da infinidão contraste tudo nada
tem uma pessoa que lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
onde uma pessoa lê um livro,
.
.
.

Uma infinitude de pessoas leêm-se mutua-infinitamente.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Enchente

as marginal alagada
a Cidade o caos
nas marginal alagada

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Saber-se homem depois de ter-se perdido como homem. (por enquanto sem título)

No banheiro público tem um zunido agudo quando a urina toca a louça e a palavra branca que assusta. Eu tenho medo da palavra branca aguda louça, chapela, interioriza. Passaram vinte, não! uma hora! não! nem um minuto a mais. Mas o zunido congela o tempo. E a louça. Sentado sobre o momento de dois ou mais segundos um fato. Do respingo cobre-dourado, na verdade amarelo-neon, da urina na louça e o silêncio de um zumbido! É o tempo que se tem às vezes para respirar. Mesmo que seja o ar sujo da louça mijada. E não exige nenhum ponto final, em todo caso.
Foi se aprofundando, mergulhando como sendo a louça branca e lisa, impenetrável de palavras. Conhece o interior de todos, a sua filosofia. Sabe quem olha para o lado no banheiro mas olha toda vez sempre a frente sempre, e tem medo de palavras brancas. As palavras brancas são todas as cores que não formam nenhuma, a presença ou ausência de todas. Reflete o que lhe é imposto, mas é impenetrável. Como a louça. Mijam nele. Ele não tem identidade, é branco. É um rato doméstico, branco e bonito, mas impenetrável, nunca saberão o que se passa dentro dele. Ingênuo e não. Todo aquele cheiro o envolvia e adimirava, todo sem cor. E era ali como numa bolha - suja - que respirava. O mundo parecia tão real ali, e o rato doméstico se conectava com um passado ancestral de bueiro. Seu rabo quase chegava a crescer. Mas respirava e no momento que o ar lhe tocava o nariz, naquele instante, não despertava olfato, pois o fluxo invariável como que empurrava o cheiro para longe, até que uma nova onda de ar lhe tocasse o fucinho. Rabo não criava não, mas que tinha bigode tinha. E sentia toda a pureza daquela atmosfera. E ali não tinha medo. A porcelana não lhe ia julgar se sim ou se não, e além do que, também era ele uma porcelana, a do lado, a não mijada ainda, olhando sempre em frente em sua marcha estática. Sendo uma porcelana de mictório ainda não tinha a preocupação das privadas com as fezes e todo o lixo lançado dentro, até o momento em que - um dia - se daria conta de que todas as porcelanas são interligadas pelo interno das paredes e que por dentro de todos os concretos se tocam. Quer dizer, o que uma recebe a outra recebe imediatamente. Talvez não o sinta, mas recebe. Nesse espaço entre o tempo e a bolha de pensamento em que se encontrava não sentiu-se mal. Sentiu-se homem, humano. Sabia o que era a louça. Conhecia o homem. Sabia de onde vinha o lixo. Estava dentro do lixo, como homem, não como louça.
Seu telefone toca e o desperta. Já terminara o que tinha ido fazer naquele banheiro e se deu conta de que estava imóvel em posição de como se estivesse mijando por um longo período, que durou dois ou mais segundos. A porcelana tem a sua própria cronologia. Assim também o homem. Seu telefone o faz se sentir mais porcelana que antes. E talvez ele tenha se dado conta, ou talvez não, o que tenha sido dito pelo seu rato interior mais ancestral. Bicho que vive em bando, se aquecendo em grupo no interior dos esgotos. Talvez isso o tenha tornado mais homem. Talvez isso teria ficado claro se ele tivesse jogado o seu telefone no lixo. Mas não o fez, naquele momento não o fez.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Domingo

Três mulheres dançam na sombra. Paira a fumaça de um olhar,
neste dia Domingo, tão pacato
tão calmo, calmo, calminho, carinho...
Ninguém anda com pressa, ninguém anda,
ninguém tem pressa
Pressa, pressa
Pressa
Pressa
Presa
.
.
.

A Pressa é uma linha rápida vocálica que atravessa verticalmente o poema

Alguém passa correndo através da tarde vazia e calma
- fumaças e nuvens compõem o céu -
O céu passa devagar,
Empurrado por ventos invisíveis,
desenhando com água e gelo,
diz o rítmo do pensar, do passar, e o pensamento conversa... versa?

O Domingo se transforma em pássaro que canta voa e pia
Pia tal o menino que passa correndo
Mas não estraga o poema
Ele é o poema quando grita
Ele está o poema
quando canta pia rodopia
E dança
E canta
E torna rodopia
E me arrepia, cada vez mais rasante, descendo, como uma queda, nas linhas do poema.

Enquanto na terra as formigas
somente elas
movimentam a monotonia do Domingo.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Resposta

Tão humano e egoísta que sou,
um egoísmo que é fruto de uma liberdade que não quero ver perdida
e ao mesmo tempo desconheço, a liberdade moderna! tão solitária que se prega!
Não conheço a liberdade que quero e tenho mesmo sem saber.
Tão humana e frágil que te tenho, como palavras em um papel
que poderia ser rasgado sem o mínimo esforço, a não ser por me envolver
e exigir de mim braços do tamanho do mundo e do meu próprio cru
do tamanho do meu cruel e imperfeito, do meu lado escondido de mim.
Nada mais é idealização, nem nunca foi... tudo real. hoje real e verdadeiro.
Ao retirar de dentro tudo o que é dor e é tão nosso, o que sobra é um lindo céu azul.
fica um poema que é feito de mais elementos que apenas palavras.
Ao retiramos a casca, podemos ter a ferida aberta e sabemos enfim que lá dentro há vida! Não há necrose onde há vida, pois o sangue é como o movimento da própria vida.

Invejarmos um ao outro nesse sentido é querermos completarmos como uma única experiência. E vivendo nessa liberdade compartilhada sabemos ser o mundo uma única experiência, na qual temos do fundo-interior a contribuição individual do avesso de cada impulso, cada pulso de vida que admiramos em sintonia.

Nada acaba, portanto nem sequer atinge um meio...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Soneto amordaçado.

Nada a nada
sou esse intenso indecente
indefinidamente...

O poema, apenas apalpado
apalavreado, um amálgama
deterioração da palavra.

Romanceado um momento
um instante fixado
em a-b-b-a letrado
vale ao menos um soneto

Inverso de pé virado
emoção alardeado, reviravolta
estilhaçado, recolho-me a mim
para em mim não acabar machucado.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pra quê doer?

Podemos brigar eternamente
mas para quê, se sabemos sermos
estarmos sempre afim
estarmos e sermos sempre amigos
companheiros enluarados da terra
num cio que não cessa.

Ciúmes pra quê? se a terra é tão banal
e maravilhosas são as cores do céu
e a vista da pedra branca tão mágica
da terra de fadas e duendes, sob escrúpulos
e pudores animais, são instintos que a gente não vê...
e são posses que nunca sorvemos
porque não possuímos nunca senão
o que é matéria um do outro.

Por que não possuirmos senão a liberdade de querermos
e estarmos sempre afim, do que nos é tão não igual
seguirmos passos um beijo de Caetano
e termos sempre a não briga, o não motivo e o não chão
se nunca houve a queda, já que a queda de um mimo
é a ferida do orgulho que não cicatriza
em nenhuma e todas as mulheres continuamente
se o amor não morre dentro dos nossos olhos
e o carinho sempre emana de nossa pele fina.

Por que pegamos partículas de drama dispersas no ar
para produzirmos uma prosa sem vida
se em nossas passadas e futuras pegadas estão as palavras para que possamos compor uma poesia?
Pra quê sofrermos com a sintaxe louca do sentimento,
se podemos nos alegrar com a semântica de um beijo?

Chuva de vidro

Um calor tão humano de errar
produzir estar deixar cuidar do que é seu
guardar como um reino marginal
fora de si e de tudo
sobre os telhados tão céu
abuelita, boca de bueiro, buraco negro
entrada incipiente de mar
osalardendopeleadentro
um recipiente hermético
fechado coração, cerrado
um balanço de mar balanço
de rede enquanto te expõem as veias
no mar aberto sobre as ruínas
do que não é sertão
nadando contra a profecia
rompendo os tendões da poesia
sob um choro tão ralo de uma tristeza profunda
quanto a chuva rala
com o ar enquanto desce fina-cortante
como choro de vidro
atravessado a gritos e palavras
decifradas com a raiva
sem razão noção perdão
um poema inteiro retirado
do saco de um lixo contagioso
de uma sala de sutura
onde se costuram emoções.

Do fundo do meu polegar opositor.

Seria como sacanagem
vamos ousar, vamos lutar brigar
vamos beber
conceder loucuras
vamos saltar pela porta de vidro
abrir o corpo para a liberdade
vamos fazer um pacto com o diabo
que já vivemos em antecedência
vamos fazer a literatura subversiva ao nosso extremo esquerdo
e extremo direito lado absurdo
produzir sem leis, errar, beber, sei lá
como já nem sei escrever.

Faço o cérebro pensar mais devagar
para acompanhar o movimento de um só braço rompido
nos tempos de crise que crescemos tanto
nossa dor tão eunuca
castrada em osso no osso pelo osso
ao fundo regaço do osso anestesiado
gago de raiva e chorando bestialidades.

Somos tão animais...
somos tão animais em forma do mundo
em busca do mundo
tão triviais...
invisíveis previsíveis
indecentes... submissos
ao tão cru intelecto
dominados pelo polegar opositor
nosso verdadeiro fator evolutivo.

Os tempos não mudam
a história cíclica.
o poema catarse
revolta depurada
em forma de remédio
como droga da tristeza
uma sala de soro de 80 anos

O tempo preso dentro de uma ampulheta
e fora dele o verso livre voraz.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Chuva e tango.

Saltos no telhado
Saltos, slatos, sltaos, sltoas, sltosa,
Saltos como num balé onírico na fluidez da madrugada
Numa erudição do movimento
Saltos, saltos, saltos,
Conformes consigo, com uma conguência eucléica de noite.

Um remorso de um salto
Ainda um salto, como um toc no telhado,
Como uma maçaneta da água estática no céu
Moderno, exaltação do corpo movimento
Uma expressão de arte em ser, de ser em,
Arte inspiração de uma expressividade tônica
Sonhando com um ronco de Ciello
No compasso rítmico que é a pulsação do sangue
Do corpo-sólido-imagem,
Nos saltos do balé do telhado.

Dança louca e barulhenta, como murmúrios,
Rumores de um tango coreografado em beijo no escuro
Profunda pele que é como um toque
Em um Piazzola dançante, o tango menino,
Preto e branco, como um xadrez, lúdicos cavalos!
Na esfolação do tango, na evolução do tango, Tango!
Arranha como uma sonoridade de cio
Um ócio ocioso nos saltos do tango do telhado, erótico,
Como uma sugestão às luzes do teatro
Rejeição da mente no brotamento do palco
Só o golpe egoísta dos saltos, do balé dançado
pelas gotas de chuva que caem da madrugada.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estar humano.

A madrugada me despedaça
numa noite sem sono
sem sem sem sem sem
fundo da vida
rumores do vaticano
do inferno sem despedida
o planeta terra fora de sua própria órbita.

Arbitrário da saudade
o sofrimento é sempre uma escolha
- a dor não o sofrimento sim -
e me espedaço sobre o lenço de papel molhado
entro e me escondo na gaveta
dos meus próprios pensamentos
devasso! É uma devastação do equilíbrio
como o próprio sofrimento devastado
explorado no seu ínfimo colar de cólera
coibido de pensar de outra forma
o impedimento de se pensar
sem o mistério da madrugada.

Versos esfacelados, acéfalos
como a massa endoidecida, tresvairada
humanidade, grita louca dentro de mim
produz arte produz arte em frangalhos
como lágrimas de um sol vermelho vermelho
como o ultra-lilás e a outra ultra-cor
qualquer que seja o verso, sempre a sua ruína
sempre a sua dor é o que transparece
alumia como um cadeeiro imaginário
a sombra da sombra no quarto da madrugada.

Enquanto isso correm nus
todos os outros animais
cantando o prazer
que é a natureza
sem complicações
da vida
que é não ser humano.

domingo, 9 de agosto de 2009

Poeta e leitor da despedida.

O que é o crescimento senão a despedida

E o que é a despedida senão o sonho
a casa vazia e um beijo roxo
como aquele do livro empoeirado
empoleirado na prateleira gasta
pela mensagem do tempo que se materializa
em bolinhas nas roupas mais antigas.
Como esse olhar que fica espraiado
espalhado pela superfície do rosto molhado
por lágrimas que não têm, difíceis e ingênuas,
que não é choro de tristeza ou alegria,
mas um pranto lírico que é o parto das palavras
que alguém chamou Maiêutica.

A despedida cria palavras.

E o crescer é sempre uma coisa nova
como dor de alongamento, estica
uma distância de nós mesmos para então nos tornarmos outro
que é nós mesmos mais ainda, desconhecido...
Crescer é um choro sem lágrimas.

Crescer é um pensamento que não pára
é como uma paranóia humana, um desalento
desatino vez ou outra uma comédia
droga e remédio, é causa e consequência
de sermos nós mesmos.

Crescer é um medo de sermos nós mesmos.

E sermos nós mesmos é ser uma lagoa toda crepúsculo,
toda noite, toda água, toda universo.
Toda espelho para quem vê do lado de fora,
como pertencimento,
mas toda profundidade pra quem vê do lado de dentro,
como existir.

É ser poeta e leitor da nossa própria poesia que é a vida.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aos nossos moldes.

Já briguei nesta rua
com alguém, não sei
minha alma? truculenta
um passante um mendigo
- por aceitar mais facilmente que eu: ser -
uma raposa que corria por entre os galhos
da árvore do cemitério
com a árvore e com o cemitério
e com os fantasmas assombrados
que rondam mundo afora sem realmente achar saída - que desespero!

Já brigamos nessa rua,
todos nós, humanidade! inculta, oculta, difusa
diariamente confusa na sua própria negação
à mim, humanidade, pouco me importa
que passo tal passarinho
tanto com passos curtos ou longos
nem sei mais, mas já brigamos
e ainda brigam, as pessoas de lá,
como se fossem se salvar algum dia
de serem também eles roídos pela aceitação da verdade - como é difícil!
(Ingênuos! alegremente ingênuos são
os pássaros da minha janela que não brigam
nem nunca brigarão - a não ser por amor
que por este vale a morte de um enleio: o canto)

Receio pois que um dia paremos de brigar
tão confusos, tão perdidos na nossa ignorância
já briguei, já brigamos,
como a morte da mocidade perdida
no vazio concreto e abstrato - da nossa ignorância, breve mas feliz...
dos nossos moldes, como uma imposição
desde o berço pertencer, subjulgar a nossa verdadeira felicidade
a fim de pertencer! como sacrificar uma loucura
para pertencer - e talvez a loucura fosse a mais saudável das verdades
indolor pura infinitamente liberdade. Liberdade!

Para quê enfim, pertencer?
Talvez para brigar? - só brigam os que pertencem
E para quê brigar se nem sabemos da nossa própria (in)felicidade
como um destino comum enquadrar-se numa refletiva
inflexiva paraplérgica invessa disléptica - absurdo!

Para quê falar de mim, se tudo e todos ao meu entorno serão sempre entorno?
Entorno! Que te interessa a minha alma truculenta? e minha abnegada poesia
que não satisfaz? Por que evitas o amor? Por quê? Por que respiras? tu que vives tão mal em meio ao tiroteio eterno - interno - que é este viver de gente...

Sobre cãos e vira-latas.

Eu e os cachorros de rua
nessa alvorada, nesse caçada
por alguma lata, uma lata que seja
alguma viralata abandonada
para lhe roubarmos a alma.
Te escondo a minha comida
o meu berço - não quero que penses
que um dia fui criança -
Seguramos na corda do alpinista
e subimos com ele para o alto
e além do alto e morremos
muito sôfregamente no além do alto.
Vinícius, tu que me reviras como lixo
tu poeta, como gostas, me come no café da manhã.
Eu que sou feito de muito pão e suor,
e na verdade muito cuidado e carinho,
como tu um monstro da delicadeza,
e de singular beleza me esquivo
de olhos esguios que me fecundam,
nos sonhos uma mulher me fecunda.
Ela que no mundo me achou, eu
que sou o seu viralatinha
ensopado de uma realidade banal
cansado, muito cansado.
Regado por influências da última lua,
amanheço o dia antes do relógio acordar
e abro o céu como se fosse o tecido
daquele a quem chamam deus,
o psiquiatra infrio do mundo, incruel e insensível,
e criador de seitas que exploram em seu nome.

Nessa madrugada que já é mais que clara,
e mais que dia embora madrugada
janto-lhe os braços e as pernas, oh poeta,
oh muher, oh deus!
Janto-lhe os versos Vinícius,
janto-lhe o emaranhado dos cabelos de gozo mulher, muito mulher,
janto-lhe os pecados deus,
e janto-me a minha eterna e brusca poesia.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mínima lua.

A luz da lua invadiu delicadamente pelas frestas da casa, reluzente,
Como um poema de mãos pequenas.

Impossível achar luvas para palavras tão doces.

Meia-vida.

Poema meia-vida
Poema me
Poem
Po
P
.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Chamamento.

A vida falta de rumo a nossa distância
distancia as palavras de mim
como se cada viesse de um planeta
deserto, marcianos, uma outra linguagem inteira
nosso amor em braille, nosso amor em terra
aqui nesse inferno perdido que deus esqueceu
sombra tateadora de um futuro incerto
mas tão certo é um futuro juntos
como eu quero como eu quero
sentir faltar palavras no nosso próprio planeta
e criar a nossa própria linhagem de seres humanos
desumanizados, criados para o prazer
para sermos sem nome bicho de nós mesmos
e te devorar devorar devorar
despudoradamente com um fio de suor e lágrimas
de um riso eterno que não pára nunca
como uma luz que demora muito a chegar.
Faísca combustível de um tato inexistente,
distância saudade comburente
desfaz e faz sempre, como hoje
a seca dos mares para por entre as chuvas e as ondas
eu rolando as dunas como o vento
venha você com a leveza das nuvens
como um raio clarear toda a escureza dos meus dias.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Chuva e poesia - II

Nado no céu molhado pelos olhares das gaivotas que se perdem no oceano.
Nado na água nada como satisfação
Suave e calma como a própria calma
Branda e casta como o abraço.

Dia de chuva e de colher,
da cama bagunçada como um último dia de feriado pró-longado.
Dia de palavras ditas sem pensar como um sentido.

A casa meio escura me absorve numa mansidade
e eu vou afundado, afundando, afundando...

Chuva e poesia - I

Chove a fantasia junto com o vidro da janela que é líquido também
Escorre inspiração pelos cantos dos guarda-chuvas, que é tudo inexplicação
Que é só um canto de guarda-chuva e é também abrigo para a pele da mulher bem arrumada.
A chuva é companheira da saudade, saudade até do que não tem.
Corre a umidade como um sono percorrendo meu corpo
Que enlaça pontas perdidas de mim mesmo.
Incentiva a brincadeira de uma mente incendiária
E poetiza a vida como uma serenidade.

A fantasia em cima da mesa.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Língua

porqueapalavraapalpada
frasesemsentidoperdida
nalínguametalínguaroída
pelosqueaindainflamam
aínguapelafaltadeacento
semcrasepalavrasemcasa
decimalnãoématemática
umasociedadetãoperdidamente
perdidaemseupróprio
egoegocêntrico
queperdelouca
alíngua.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Da coerência junção de palavras.

Escrita palavra, reflexo engatilho da conjura sobre o desestável de todas as coisas. Uma porção de sentimentos traduzidos ao espaço sobre uma rede mais que complexa de sentidos, idas e vindas de um calor quase que insuportável. Ao sê-los e apenas, tudo vai se convergindo para um somente só, bem desequilíbrio à explodir a qualquer fagulha. Um estilhaço de bomba na cara do controle separa do mesmo buraco em que tudo se confunde uma palavra, mundo, de outra, realidade, e a palavra vida da palavra abismo, então enfim, uma livre para se encaixar na outra com coesão e senso, tendendo à sua livre inércia. O mundo real derrama vidas ao abismo sem fim.

É possível?

De um índice completo de todos esses momentos, o encontro foge, ruidoso, abre em um choro epitelial de variadas camadas de chuva de granizo. No auge dos tempos nos rendemos ao impulso externo-material, pois nem que os pássaros cantem mais. O espaço diminui, e o tempo aumenta sua expressão-víbora devoradora da calma, em várias vezes milhares de divisões ínfimas e confidentes entre si dos pormenores da humanidade, tal qual escrevo nos exatos minutos e milésimos de segundos e milhonésimos deste no decorrer das 17 horas da tarde bem marcada, impossível de se perder em um infinito tão bem estruturado. Tão bem estruturado vivo o homem-só, perdido de Cândido e sua inocência-ignorante bem visada amiga da felicidade no cruel negrume do asfalto que encobre camadas de vidas subterrâneas, subalternas, subentendidas, sublevadas, subinformadas, subvividas... amarradas por ainda uma questão de destino mal rasgada, herdada do tempo dos pecados capitais. Neste meio incompreendido pelos deuses já destituídos por nós, o deus-da-vez Deus-mercado aguarda outra calamidade para abalar sua ordem reinante.
Em meio à isso, um casal invisível tenta sobreviver pelos apenas prazeres de um Corpúsculo de Meissner excitado.

domingo, 14 de junho de 2009

Luz.

Está tudo tão claro agora.
Tinha medo antes, mas a sua força é tão grande tão grande que esse medo passa a ser besteira de corpo; E o seu sorriso, luz da alma.

O tempo sorri.

A cidade passa por mim,
deitando despedidas feitas
pessoas e pessoas se apresentam
a meu humor, descaradas, escancarado.

Brilham as luzes de um lugar
onde ninguém jamais esteve.
Um lugar, quem sabe síntese,
pois um desconhecido em mim.

E essa necessidade louca de escrever,
necessidade louca de escrever,
que estive contigo

Quem sabe para tentar guardar
cada sorriso dado ao tempo,
como um tato que vira palavras.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Quem sabe síntese.

Na cidade gelatina,
encoberta de pedras atiradas à Geni, aquela vaca,
cresce o cão Matuki, nome indígena e de rio,
não nem daqui nem da China,
mas d'outro qualquer lugar distante nesta Terra geóide.
Enquanto isso, distante, marcianos verdes procuram
a explicação do universo, roubada por um gremlin fugitivo.

Quem sabe num domingo de paradoxal paz e futebol,
miremos as nossas pedras ao invés da vaca da Geni
para um pelador qualquer, TV,
maldito ópio, base de todo panis et circences
desta grandiosa Roma, onde um Urbano dois
foi até a cidade caduca de urbanidade.

Estamos na Pax do ai que preguiça! de jorrar sangue
do ai que preguiça! deste caos.
À todos os feudos que são os condomínios,
bom poder fugir da criação que deu errado.
Pra quem fica do lado de fora, tchau.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Amor de mar.

Nosso nos é, o beijo, sentimento tão puro
do gosto do beijo das palavras que nos tateiam quentes
ainda amornadas no verão interno, sobrenavegando os mares
que encobre de inteira rebeldia os nossos anos incertos.

Como não sentir, uma vez que balança o mar inteiro,
que é amor, pros olhos de quem ama
o mar cego, que nos cega e nos entrega
e é ainda a mais cega de todas as nossas certezas.

Repouso as palavras molhadas sobre o calor do nosso beijo.
Os versos causam rebuliço dentro desse mar profundo
Reviram sua ressaca, tamanho poder que têm na poesia.

E o mundo se expande, para não transbordar a água
que emana de seus lábios, onde guarda todo o amor
de que falamos sem entender, eu e o mar.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Filosofia de morte.

Palavras se perdem na escura imensidão da noite em claro
buscando respostas de um infinito sem fim de finitas razões para se ser e ser se
palavras de filosofias antigas, e de remotos indícios do pensamento
Busco clareza nessa noite em claro.

A busca tem senão uma razão
de ser sem se, de absolutar a certeza buscada.
Mas a busca, por ser humana
se acaba em certeira ilusão.

Passa o tempo que nos enterra,
e uma certeza se leva em vão,
de que nossa verdade fora incerta.

Filosofia esta que nos desperta,
aprende-se a viver com fantasia,
e verá que somente ela tem razão.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

à Stalingrado.

Escalco, desfalcado Stalingrado,
onde jaz uma ilusão perdida.
Falso líder, nesse mundo já deturpado
em vão erguemos uma bandeira ferida.

E jorra o sangue pelas veias,
pelas esquinas e ruínas do que um dia fora um sonho.
Jorra o sangue pelas veias, pelas esquinas ruínas,
do cadáver de Stalingrado.

Assim caminhamos, em pecaminosa quimera
que ainda assim resiste
existe na bandeira que sangra.

Passaremos por cima do que era
para um dia mudarmos a imagem
do sangue que ainda jorra de Stalingrado.

The ladder.

Will we lost ourselves?
Will the language disappear?
Will we not need to pretend anymore?

Like a ladder, we're climbing...
Like a ladder, we'll get to the top
Like a ladder, when we get there, we'll see

Just like a ladder.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Escibo.

Yo tengo que escribir.
Un momiento de singularidad;
una corriente de pensamientos si colga en mi pelo
con su ruído a mi callar.

O mundo está dando voltas com minha cabeça.
Às vezes tudo parece tão perdido...
e nem eu quero voltar...

O ser humano é tão frágil.
Y su grosería tan grande.

- Su grosería es tan grande que lo tiento en la piel.

El miedo ven contudo, atónito,
Bate en el agua, en el despotismo de su silencio esclarecido
Y arrasa otro outoño. Otro. Otoño.

Las palabras bailan sobre él,
bailan las palabras castas de sus follages amarilladas
y yo tengo que escribilas. Escribo. Escribo el otoño.

Mas parece que me escapa a mi.

terça-feira, 31 de março de 2009

Eu, improviso.

A língua presa prende
o trapo sempre preso
requebranto pranto.
Prato quebrado em seu adro.
Quadro preto rebaixado
a edro, coisa de pedro,
preto pedreiro,
branco lixeiro,
preto riquinho,
branco pobrão.
Coisa desigual e não.
Assim senão,
não coisa de cor
mas de gente, que é minha
minha gente, que se esquece
que gente é gente,
e que outra gente é sempre
gente como a gente.
É que não param,
meio a muvuca alienante,
e nem pensam,
entre o barulho alucinante
de civilização.
Poesia em cria,
procria em versos.
Da cama ao luar,
do luar à cidade,
da cidade ao grotesco,
do grotesco ao vento,
do vento ao caos,
do caos ao ventre,
de alguma dessas gente
que já não se lembra
do que é ser gente.
até que o rebento
largado, rumo,
seco ao relento,
abranja enfim,
pouco a pouco,
e toque, com um dedo rouco
o borburinho da calamidade
que reside em cada canto
da nossa inflamada e avançada
e já não tão humana
soterrada sociedade.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Comofazerumaodeaoserhumanodehojeemdia.

Ser em si um ser em questão, ser ou não ser,
O Homem, bicho estranho, é, mesmo, de si mesmo irmão?
De hoje se nega a clássica poética,
que passa a ser fruto incisivo da degradação do ser Homem.
- Degradação da língua.

Deve ser a poesia um eco solúvel
para essa coisa contraditória e descompassada.
Rima mal-passada da miséria humana apenas
cápsulas de bala para o gordíssimo pudor do dinheiro.

Las cosas que importan.

Images from a veiculated infinite world made from finite matter.
Fick dich, ninguém se importa.
O Mundo hoje, o Mundo do futuro, o Mundo de ninguém.
Jamais foi nem nunca será, Mundo.
As the humanity goes - full of vanities and desvanities -
Caminhamos com as patas de trás rumo a um buraco negro.

Dioptic ilusion de le Monde, Monde irreal,
Mundo de sangue e carne viva. Mundo de gente real.
Mundo que navega pelo espaço,
rumo ao todo e ao nada do universo
em sua constante e infinita e serena expansão.

Comemos uns aos outros. Devoramos nossos companheiros-irmãos.
Antropófagos humanos deprovidos de emoção,
gordos de estupefatos exageros nas margens do superávit primário.
Y, en el gran final, para alivio de eso corazón,
Las cosas que realmente importan pueden ser compradas.

Si fueres bueno te daré un regalo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Por culpa de quien?

Alguns anos de solidão,
algumas vezes, assolam a vida
e alheia à duas vontades e meia,
pressente o presente de una soledad.

Um saudoso poeta poliglota,
something in english, he wrote,
Qu'est-ce que en français?

Je ne sais pa de rien
Or is there something left in my mind?
Por quantas sabe, se sabe, a quantas vão?
Alguma métrica bloqueando a visão?
Yo no sé quien ha sido.

Livreto em forma turística,
fast cours de français,
Porque yo no hablo español...

Qual será, enfim, o futuro filosófico da nação?
Algum tema de tour Eiffel, europeic bullshit
deixada sorrateiramente sob os chicotes da escravidão?
quien mucho, quien poco, todos contribuyeron...
Who's guilty?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Livros

Vamos compor alguma coisa?
Eu perguntei pra ela.
Mas ela só mecheu a cabeça e abanou o rabo.
Coisa estranha telepática ourivesaria
é o rebanho de cachorros do meu pensamento vizinho.
Como um saco de dormir, saco de palavras, saco de trovador.

Que saco só latir. Tentar em vão me comunicar.
Mais fácil me trancar num escritório meu mundo,
cheio de navios e barcos a boiar, antes que a enchente me venha valer.
Genealógica árvore de pensamentos, por trás dos meus óculos escuros,
em uma tarde que não se tem muito o que pensar.

São os livros que ando lendo. Mechem a cuca e remexem,
em refinado desconcerto. Me penetram na vida,
reviram a morte, criam versos com molas.
E me fazem até falar com cachorros.

Chuva das seis (Para um Fórum Social Mundial em Belém do Pará)

E chovia, bando de escritores
de um dadaísmo obscuro, e um misticismo irreverente
chovia estrelas mil,
em noites de bêbados equilibristas
em solo e céu do Brasil.

Chovia um pesadelo de possibilidades
em um minuto de solidão.
Sofria calado uma personagem assassinada
por um pingo de escrita
em acentuada inquietação.

Rola madrugada abaixo,
um bueiro destruído por uma tempestade política
estupro no banheiro de palafita,
preservativo destituído de uso
e um bebedouro para trinta mil pessoas quebradas
onde ainda se cria na vida.