sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Esperança

Jogo sem pensar
As vezes me iludindo cegamente. Acredito.
Pelo menos conheço a minha própria loucura.

Sou humano,
e como tal, passível de erros.
Um grande nada de matéria,
carregado de complexidade e contradições.

Hoje eu penso no futuro, e espero.
Aguardo ansiosamente pelo sol de amanhã, pois agora fazem de tudo noite.
Cada gole da garrafa que eu bebo me sorve lentamente,
com certeza me aproveitando muito mais do que eu a ela.

O vinho, como sabe ser boa companhia,
compreende. E me envolve em acidez.
E faz bem quando amarga a minha boca,
quando tudo a volta é amargura. E ninguém é menos amargo.

Não quero soar depressivo. Não o sou.
As palavras são. Quando tomadas pela razão.

E a razão, como dizem, é indubitável:
ninguém se opõe a ela.
Então, nesse caminho certeiro para a verdade absoluta,
busco a luz, procuro sair dessa amarga ilusão
de que se esperarmos a flor brotará do asfalto sozinha.

Ou pelo menos tento crer, que se ela brotar,
ainda há esperança.
Ainda há esperança de que os que movem esse fluxo de metal e aço,
aqueles que fazem a noite,
sejam sábios o suficiente e abram espaço
para a deixar crescer.

Nada escrito.

Hoje, nada me agrada.

Nem o som que irrompe pelo lado de fora da janela,
nem o que vem de dentro.
A cama na qual eu me deito não acolhe o quanto eu preciso.
As toalhas mal passadas não secam mais esta água que não molha.

Na verdade, nenhum caminho me leva pra onde quero.
A rosa não se parece como eu a vejo...
Nada é como é, e eu não sou como sou,
Porque hoje nada faz sentido. E aqui dentro tudo é frio.

As palavras, nas quais eu confio, deformam todos os seus benignos sentidos ao serem escritas,
e o sentido que elas têm dentro de mim, não é o que elas deveriam ter. Ou é,
porque assim o tem.
Meu corpo não responde aos estímulos do cérebro, e este já não sabe o que faz.

As roupas já não vestem sem que nos façam nos sentirmos presos.
Nenhuma maquiagem embeleza, para espelhos que não refletem nada além.
Para espelhos que nem refletem, tudo parou.
Os relógios, que aguardam minutos que guardam infinitas possibilidades de ações paranóicas,
se despedaçaram em milhares de esperanças.

E fora de mim matérias implodem sem emoção.
O mundo que existe lá fora, não é como deveria ser, e
o ser humano se torna cada vez menos humano.
Os cursos que são ministrados em todas as áreas não ensinam o que se imagina,
porque a própria imaginação já não é mais livremente imaginável.

As críticas não têm efeito algum porque não são mais as que atingem.
Os movimentos não conseguem mais o que querem, pois não mais são movimentados.

A comida causa mais fome.
A água causa mais sede.
As guerras são as únicas que salvam a alma
e a paz nos destrói.

As vozes que nunca deveriam ter sido ouvidas, não mais o são,
e envelhecem. Jazem em profundos dos papéis amarelos.

E eu, como sou normal, e para não sair da rotina
que já não é cotidiana, porque os dias já não existem,
escrevo. Mesmo sabendo que não escrevi nada.