quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Chuva e tango.

Saltos no telhado
Saltos, slatos, sltaos, sltoas, sltosa,
Saltos como num balé onírico na fluidez da madrugada
Numa erudição do movimento
Saltos, saltos, saltos,
Conformes consigo, com uma conguência eucléica de noite.

Um remorso de um salto
Ainda um salto, como um toc no telhado,
Como uma maçaneta da água estática no céu
Moderno, exaltação do corpo movimento
Uma expressão de arte em ser, de ser em,
Arte inspiração de uma expressividade tônica
Sonhando com um ronco de Ciello
No compasso rítmico que é a pulsação do sangue
Do corpo-sólido-imagem,
Nos saltos do balé do telhado.

Dança louca e barulhenta, como murmúrios,
Rumores de um tango coreografado em beijo no escuro
Profunda pele que é como um toque
Em um Piazzola dançante, o tango menino,
Preto e branco, como um xadrez, lúdicos cavalos!
Na esfolação do tango, na evolução do tango, Tango!
Arranha como uma sonoridade de cio
Um ócio ocioso nos saltos do tango do telhado, erótico,
Como uma sugestão às luzes do teatro
Rejeição da mente no brotamento do palco
Só o golpe egoísta dos saltos, do balé dançado
pelas gotas de chuva que caem da madrugada.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Estar humano.

A madrugada me despedaça
numa noite sem sono
sem sem sem sem sem
fundo da vida
rumores do vaticano
do inferno sem despedida
o planeta terra fora de sua própria órbita.

Arbitrário da saudade
o sofrimento é sempre uma escolha
- a dor não o sofrimento sim -
e me espedaço sobre o lenço de papel molhado
entro e me escondo na gaveta
dos meus próprios pensamentos
devasso! É uma devastação do equilíbrio
como o próprio sofrimento devastado
explorado no seu ínfimo colar de cólera
coibido de pensar de outra forma
o impedimento de se pensar
sem o mistério da madrugada.

Versos esfacelados, acéfalos
como a massa endoidecida, tresvairada
humanidade, grita louca dentro de mim
produz arte produz arte em frangalhos
como lágrimas de um sol vermelho vermelho
como o ultra-lilás e a outra ultra-cor
qualquer que seja o verso, sempre a sua ruína
sempre a sua dor é o que transparece
alumia como um cadeeiro imaginário
a sombra da sombra no quarto da madrugada.

Enquanto isso correm nus
todos os outros animais
cantando o prazer
que é a natureza
sem complicações
da vida
que é não ser humano.

domingo, 9 de agosto de 2009

Poeta e leitor da despedida.

O que é o crescimento senão a despedida

E o que é a despedida senão o sonho
a casa vazia e um beijo roxo
como aquele do livro empoeirado
empoleirado na prateleira gasta
pela mensagem do tempo que se materializa
em bolinhas nas roupas mais antigas.
Como esse olhar que fica espraiado
espalhado pela superfície do rosto molhado
por lágrimas que não têm, difíceis e ingênuas,
que não é choro de tristeza ou alegria,
mas um pranto lírico que é o parto das palavras
que alguém chamou Maiêutica.

A despedida cria palavras.

E o crescer é sempre uma coisa nova
como dor de alongamento, estica
uma distância de nós mesmos para então nos tornarmos outro
que é nós mesmos mais ainda, desconhecido...
Crescer é um choro sem lágrimas.

Crescer é um pensamento que não pára
é como uma paranóia humana, um desalento
desatino vez ou outra uma comédia
droga e remédio, é causa e consequência
de sermos nós mesmos.

Crescer é um medo de sermos nós mesmos.

E sermos nós mesmos é ser uma lagoa toda crepúsculo,
toda noite, toda água, toda universo.
Toda espelho para quem vê do lado de fora,
como pertencimento,
mas toda profundidade pra quem vê do lado de dentro,
como existir.

É ser poeta e leitor da nossa própria poesia que é a vida.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aos nossos moldes.

Já briguei nesta rua
com alguém, não sei
minha alma? truculenta
um passante um mendigo
- por aceitar mais facilmente que eu: ser -
uma raposa que corria por entre os galhos
da árvore do cemitério
com a árvore e com o cemitério
e com os fantasmas assombrados
que rondam mundo afora sem realmente achar saída - que desespero!

Já brigamos nessa rua,
todos nós, humanidade! inculta, oculta, difusa
diariamente confusa na sua própria negação
à mim, humanidade, pouco me importa
que passo tal passarinho
tanto com passos curtos ou longos
nem sei mais, mas já brigamos
e ainda brigam, as pessoas de lá,
como se fossem se salvar algum dia
de serem também eles roídos pela aceitação da verdade - como é difícil!
(Ingênuos! alegremente ingênuos são
os pássaros da minha janela que não brigam
nem nunca brigarão - a não ser por amor
que por este vale a morte de um enleio: o canto)

Receio pois que um dia paremos de brigar
tão confusos, tão perdidos na nossa ignorância
já briguei, já brigamos,
como a morte da mocidade perdida
no vazio concreto e abstrato - da nossa ignorância, breve mas feliz...
dos nossos moldes, como uma imposição
desde o berço pertencer, subjulgar a nossa verdadeira felicidade
a fim de pertencer! como sacrificar uma loucura
para pertencer - e talvez a loucura fosse a mais saudável das verdades
indolor pura infinitamente liberdade. Liberdade!

Para quê enfim, pertencer?
Talvez para brigar? - só brigam os que pertencem
E para quê brigar se nem sabemos da nossa própria (in)felicidade
como um destino comum enquadrar-se numa refletiva
inflexiva paraplérgica invessa disléptica - absurdo!

Para quê falar de mim, se tudo e todos ao meu entorno serão sempre entorno?
Entorno! Que te interessa a minha alma truculenta? e minha abnegada poesia
que não satisfaz? Por que evitas o amor? Por quê? Por que respiras? tu que vives tão mal em meio ao tiroteio eterno - interno - que é este viver de gente...

Sobre cãos e vira-latas.

Eu e os cachorros de rua
nessa alvorada, nesse caçada
por alguma lata, uma lata que seja
alguma viralata abandonada
para lhe roubarmos a alma.
Te escondo a minha comida
o meu berço - não quero que penses
que um dia fui criança -
Seguramos na corda do alpinista
e subimos com ele para o alto
e além do alto e morremos
muito sôfregamente no além do alto.
Vinícius, tu que me reviras como lixo
tu poeta, como gostas, me come no café da manhã.
Eu que sou feito de muito pão e suor,
e na verdade muito cuidado e carinho,
como tu um monstro da delicadeza,
e de singular beleza me esquivo
de olhos esguios que me fecundam,
nos sonhos uma mulher me fecunda.
Ela que no mundo me achou, eu
que sou o seu viralatinha
ensopado de uma realidade banal
cansado, muito cansado.
Regado por influências da última lua,
amanheço o dia antes do relógio acordar
e abro o céu como se fosse o tecido
daquele a quem chamam deus,
o psiquiatra infrio do mundo, incruel e insensível,
e criador de seitas que exploram em seu nome.

Nessa madrugada que já é mais que clara,
e mais que dia embora madrugada
janto-lhe os braços e as pernas, oh poeta,
oh muher, oh deus!
Janto-lhe os versos Vinícius,
janto-lhe o emaranhado dos cabelos de gozo mulher, muito mulher,
janto-lhe os pecados deus,
e janto-me a minha eterna e brusca poesia.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Mínima lua.

A luz da lua invadiu delicadamente pelas frestas da casa, reluzente,
Como um poema de mãos pequenas.

Impossível achar luvas para palavras tão doces.

Meia-vida.

Poema meia-vida
Poema me
Poem
Po
P
.