terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Olhar pra você.

É um abismo isso,
de arrebatado-deslumbro
em ponta de prancha-tábua de navio-pirata.
Dá de - enlevado desvario -
querer me jogar de cabeça,
e dá de dar medo ao mesmo tempo.

Uma poça de cabeça-virada
em que a água não escorre
nem escoa, e mesmo assim
molha o meu mundo e além.

É um não-sei-o-quê,
de dar nó e entrelaçar
todos os estilos de um mesmo poeta,
e dele reinventar muitos outros.

Afunda a lua e o sono,
profundo gozo de rima brincalhona,
em olhar ofusque
e sorriso fascínio,
de se perder em seu êxtase.

É todo um poema de pé-virado
onde tudo perde sentido e ganha
a todo momento, um deslumbre, um viés,
de enleve respiro. É um suspiro à sua frente.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Noite de inverno.

As palavras se estratificam como nuvens num céu de lua cheia,
conglomerando gotículas de concepções e significados
na tela da mente que desmente idéias dementes,
deveramente simétricas à cadência de estrelas e pedidos.

Nesse céu cambeiam tons e tons noturnos
de azul-escuro-filosófico e azul-claro-meditativo
de sutil gradação, pincelados em aquarela desbotada
da sobretela de vapor d'água, justaposto ao imprevisto cenário:

A Lua, inteira e maciça, de inquietas formas a se diversar,
delineia silhueta zefíria, onde não se sabe seu verdadeiro alcance,
e conversa com a noite, em arcano namoro. De lenta e vaga
não deixa claro seus reais escopos, e permanece aprazível,
sempre bela, esperando cortejo, e seu devido prestígio.

As estrelas condizem: à seu chamego, fazem extravagante declaro,
nascem e renascem, discutem e batalham, pelejam e se ofendem
todas de suas devidas distâncias, de modo que quando elogio atinge destino,
por gênero de excêntrico acaso, passaram a vida inteira acreditando amor incorrespondido, pois que já inexistem.

Embaixo, sorrateira, dorme a inquieta cidade, apreensiva numa noite de sono,
intrigantemente desapressada, harmoniza-se em cardinale conjunto,
de aprazível concerto:
Van Gogh deslumbra uma noite de inverno em pleno verão arrebatado.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Poema palavra.

P O E M A
O
E
M
A

Circunstância letrada da vida...

...momento preso entre os dedos de cada palavrA

V I D A
I
D
A

Poemática da arte existir...

...viver é retirar de cada momento a sua poesiA

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Não cotidiano.

Dois jovens acordaram com um desejo estranho um dia:
Queriam tomar sorvete.
Mas que estranho desejo para se mudar o cotidiano da cidade...
Seria como lamber as ruelas frias e cinzas da grande metrópole.

Não há sorveteria, não há sorvete.
É como se a caça e o caçador desentendessem
como funciona seus respectivos papéis.

Aonde se esconderia vertiginoso desejo?
Por baixo do asfalto ou por trás das infindas mercadorias?
Teria escorrido bueiro abaixo,
para os profundos do cemitério de concreto?

Acha-se de tudo no enorme empório...
Vontades criadas, anseios divulgados,
ambições incabíveis e pretensões idealizadas.

Mas naquele dia foi impossível achar um simples sorvete.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Que falta faz Bacamarte, aqui na Terra.

Libertaram os poetas! salve-se quem puder!
é um deus-nos-acuda e ainda um sei lá:
eles abrolham das praças, brotam do chão e do nada,
chovem em dia de sol - quando ninguém está de guarda-chuva -
aportam nas portas e ancoram nos portos
apontam e despontam e assim procedem,
dominam a cidade e tomam o governo,
retiram os cartazes e queimam as bandeiras.

O povo, em caótica, decretada calamidade, exclama:
- "Nada tem sabor para eles! ingratos sem raça!
despregam e relegam, pelegam injustos!
essa gente astuta e capciosa! esses tais de poetas!
são loucos! loucos psicopatas de excêntre-recesso!"

Estabelece-se a bancarrota humana, a ruína:
- "Nós, poetas, determinamos a partir desta e de agora,
que o mundo parou! não haverão mais Estados, não haverão mais fronteiras,
não haverão mais nomenclaturas! A modo que tudo é um e de um se forma o todo.
É o fim dos objetos e das coisas, dos artefatos e artifícios.
Serão fechadas todas as congruências, serão fechadas todas as conveniências!
Viveremos só do que nos cabe nas palmas das mãos.
A partir desta e de agora: ninguém é poeta e todos serão;
e seremos o que sempre quisemos ser..."

E foram "ohs" e "ahs" para todos os lados; mais exclamações:
- "Como?! Qual?! Isso é absurdo...!"

Pois que assim seja, porque nesse poema, os poetas são eu, e o poema ainda mais meu:
O que não dura, domínio e predicado, descai, se apaga e desbota,
abrandam-se e se extinguem, são expungidos lentamente,
pelos novos desígnios de idealidade;
- Há tempos se esqueceu o que é posse,
e o ser humano sabe até amar melhor. -
Os países todos convergem para um só, e enfim, o mundo!
Aprendeu-se tolerância e respeito, e melhor ainda,
aprendeu-se a aprender o outro; apronta-se humanidade.

Que finda em completa revolução, de manifesto versado,
regida poesia, poemática, em demasiada poematização:
- "E no fim, não eram tão loucos assim, os poetas..."

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Zunido.

Deito-me a zunir. É o som que traz a insônia,
enquanto zurra o silêncio da cidade entorpecida:
"ZZZZZZ"
Zumbe, rezuna e ainda se apruma,
para não me deixar dormir:
"ZZZZZZ"

É a auditiva vida de zumbido zóico:

Zunindo e zunzunando desmedido zuruó
- zurde-zurrada-zureta -
com afincado zimbo de Zês zombeirões.

Zangarreia-zangarilho, zarpa zaranzando
zarabataneando o sono, o zêlo e as zeugmas
em som zueira de Zê zebrado...

Zazaneia essa zabumba zicada, e enzarelha
- zepelim-zigomorfo-zigue-zague-zão-zão -
zarro de zoísta zombaria.

Zoantropia pior que zoada de zodíaco e zinziar de cigarra tonta,
sempre zumbindo, em zarro.

Mas a cidade, que dorme zapeira,
se esquece até do alfabeto, e entoa,
em zuído zumbaieiro, zunido uníssono:
"ZZZZZZ"

Metapoema.

O que chama, renasce, reluz e reclama
é o carro que escorrega;
é a alma que desfrega;
é o coração que desprega;
...esse unívoco jouer de palavras,
que é a minha poesia.

Faz sentido e desfaz, de própria-propriedade por ser apenas.
Mas se completa: Reluta por si,
abarrotada de coalhados rumos;
E também me completa, sim senhor:
Vincula opinião e preferência,
conhecido e experimentado
e notado e apercebido.

Contém, encerra, inclui e desinclui,
e apresenta todos significados e nenhum.
Leia e releia: pois que verá o que busca:
Um insignificante jogo palavreado, sobrenavegando espaço em branco;
Ou então buliçosos contingentes, versáteis
de solução analítica, dilateando intelecto;

Equivale ao significado de consistir, como consiste em equivaler.
E fica e é e está. E já não é mais.
Sou eu ou sujeito-qualquer, outro, que grita de lá,
e opina, e se diz e rediz e desdiz,
e já não sabe mais o que sabia dantes.
Não por ser bicho do mato,
mas bicho bicho mesmo, como outro qualquer bicho.
Que apenas é, e é.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Beijo

Beijo. Semântica do desejo
de um acúmulo real ou fracionado de saudade
e mais desejo. Outro beijo.
Chove-bota-coloca, e deposita e canta
mais uma proposta-proporção,
e ainda uma porção de mais e mais beijos.

E mais me cabe toda a vida no seguinte momento,
de desencosta de lábio e de abertura de olho,
que calha ainda de ser verdade e não sonho,
a miscigenação completa de sinfonias e poemas
que palpitam latejantes em folia-e-dança
compondo odes de impossível e contígua absorção.

É esse seu olhar que me assenta.
Em verdade, me acosta e recosta,
e encosta e inquieta. Desse olhar profundo
em que se perdem, denso, as todas galáxias de todos os universos.
E que isso representem em todo um único homem - mais ainda, eu.
Que, fundo, se abafa, e recala e não se cabe de consumir
d'onde submergem invasões de um sem fim de sensibilidade.
É ainda um bel-prazer, de infinita veleidade de aspiração e gosto;

Desse reparo-contemplado, salta afável, custoso brió.
E que te custa mostrar, cheiosa de mistério
coisa de nenhum segredo - porque desvendo e descalo antecipadamente.
Sussurro de sigiloso enigma, paira silêncio confidencioso,
sobre clima dezembreiro de emblemático calor e mais mistério,
em pouca luz e vento, corre um deitoso cochicho, que me aborda e abrange
e aconchega e abriga você como nunca tão perto.

Têm poder as palavras; e mais ainda as de Eros;
(porque é deus e porque é poderoso - e porque somos frágeis a qualquer cupido).
Quando deixa ser vista e quando viajam de você os seus demais signos
se emana e flui tudo o que a Química ainda não explica.
Se epiloga, em absurda capacidade de soma,
um absorto relicário de mais de mundos de sensações
que se expressam em três vocábulos,
que talvez traduzissem mais que esse inteiro poema.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Gana propaganda.

Um vazio buraco de nada
me separa do resto da humanidade;

Enfurnas açoite o restolho do mundo
ranca olho ranca pó ranca tudo e nada
rancorosamente voltado pra si
e nem sequer pensam
quando escutam o estralo do açoite
chiqueirador-chiqueirá, são chiqueirados
e nem sabem; o rebenque-vergasta
está na mão de todos e de nenhum.

Se auto-chibateiam e lêem auto-ajuda,
pois precisam é da achega do interno!
refulgassa a desgraça na qual auto-imposta se acha
fixa-imposição interna, do mundo da pressão da loucura
Oh, deus, quanta riamba.
Não há amparo no vale-desamparado do mundo.

Melancolias mercadorias e ninguém de branco na rua.
é a receita para o fim. Cada altiva esquina resguarda o horror cominitivo
propaganda alvitricada em vidrinhos lançados ao mar,
e o povo estático-exaltado se deslumbra fascinado
Tudo rampa, pampa, tudo enlevo, da mais gorda mentira
Engrossa posta, rolda-molda o próprio chicote
que encalabra a vida. Reluz antipático o valor do coice.

E nada disso está no "outdoor" da propaganda.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Piola de lua.

A lua gritava sigilosamente,
repousando seu sorriso taciturno
sobre este poema,
trafegado por pernilongos e vaga-lumes
branco-prateados e amarelo-douricados
de todas as origens e destinos e de toda a terra.

Em arrematado cochicho
lançado - de mim pra mim mesmo -
cravelhou-me seu enclave de chave-mistério:
giro, rodopio e regiro, revolvo e torno a girar
sou caco-de-tudo e prova-de-nada
me comprovo por inerente certeza...
É essa a guimba de meu principiado-precipício
em termo em fim: minha liba.

Estrada-fuga de extremada frieza
puá de cegueira-acúlea
bico em pico de povo doente
dor-de-cabeça de tudo o que é gente.
espinho-humano, trago, pico, limite-de-farpa
a cidade se verte em bagana escopo
intento-fito de intuito indigente,
cabo-fenecimento depauperado.
A cidade se verte em ruína.

Ao longe se ilumina sua sina
perece até ao pensar-fenecimento
transpassa o trânsito-óbito
da maquinaria óbvia de avesso sistema.
Extrato-substrato de papel folha
que te aponta e comprova ser mesmo quem é
porque quem é, é - nada abstrato -
e não pode mais ser sem contra-cheque nem prévio-aviso.
Bota, calça e registra seu pé.

Mas a lua lá do alto chameja
chispa-corusca e cintila
e me chama, refulgente
como diriam suas cúmplices estrelas
- amantes-amigas-companheiras -
e de lá se sorri: diz, se articulando:
daqui de fora sentencio:
és um adágio;
Mas eu, cá inteirinha, não tenho rolo de me embaraçar...
Vou continuar brilhando em leso-sabote
Apenas perturbando o infeliz que me notar.

domingo, 30 de novembro de 2008

Dizemos

De tão exposto já não molha mais
a cabeceira do morro pelado;
Lá onde as entranhas da Terra estão à mostra
pela falta do asfalto-negrume,
ranchião-cachaço, de melaço-de-cana,
a fome opina de lá, grita
gira seu preceito-conceito
retentiva campestre
de sua e de outra.

O mel madeirado
dimana sangue fluido
em trilogia das cores
coisa bandido abolido que foi,
a cano frio de arma dura,
um sopro que fosse
o gosto de mudar.

Não sei mais nem-quê,
nem-como, nem-porquê.
O que hoje foi dito,
dize, o de ontem
dizeu, e o de amanhã
dizerá.

Fresta de liberdade

Que posso eu
fixo 'em aleatoreidade,
em signos sinônimos
sintomáticos, da mazela
maleita guerreira
de nação-torrão
zueira zangibeira
de senhor-velho-ancião?

São estes sulcos arados
de presságio aparente
agouro-endêmico
de fornalha-mortalhada
de um inteiro país.

Perde-se em língua em tom
de desfeita abobalhada
a desgraça folgazada
sobre a expectativa de toda a gente.

E que há? de fala falaz
se convence, própria da mente
assina a gente demente
ardilosada-capisciosamente
em sua mais desilusão
confiada do alto qu'vem.

Mas haverá, de poderio,
ariçada a raiva quente,
quando a descoberta
se deparar ao achado
e publicar seu desvairado
penteado-que-rege-o-mundo
encarapitar a foice e o martelo,
após derrocada a bandeira de deus
alucinado de povo pirado,
de se confiar esperança?

Mas há, sim qu'há!
Antes d'o planeta parar de rodar
já se vá aspirar o ar da liberdade
tão lânguida nesses tempos
e nessas coordenadas,
que só por uma fresta fugida
nos coube uma vez ou outra atentar.

sábado, 29 de novembro de 2008

Sério-sério

Criação farsetária
falsária, falsa, reaça
ação fracionária,
fim do poema
em dois em mil...

Em uníssono, coaxado
ramo coalhado de Roma
criado-Estado-tramóia-treta
caí no conto-do-vigário de má-fé
sem parar de velhacos surdinos
no mundo de tudo.

Desfalcado improibitório
dessa nação-zumbi, nos zomba
o logro do pobre-zombado e cara-cuspida
o rombo fraudulento
de governo-estelionato.
Rematado terror de cidadania,
pacote-aprontado, embaixo do tapete.

Enfurnado sarapalha saratantas
sarapatel de trombetas moucosas.
Surdantas e tantas outras,
de tanto alento,
fique atento,
ao atentado.

Fôlego de saudade

Ainda ressoa sua voz em eco
em longe em certo, ou mesmo perto
perpassando fios e até cabos
que cruzam o oceano
e levam seu tom penetrante
que acaricia exclusivo,
o auditivo de todos os meus sentidos.

É o que podemos, em tempo,
pelo que se mostra o espaço
distante, um bloco de nota
vibrante vocal, que anestesia
pelo menos um mínimo a saudade apertada.

Enquanto não podemos
com a mágica da língua,
em u em beijo em gosto
nos desfazermos em saliva
migrante, dentre lábios
que se abocanham carinhosamente
unidos em uma só boca,
há um nímio de imaginação
que ressalva aguardar.

E esperamos. Até não aguentar mais
o peso da vontade própria do querer.
Apetece o beijo apalavrado,
que anuncia a sua chegada
e a versada revivência
dos outros quatro sentidos
acobardados pelo apenas eco da sua voz.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Prazer palavreado

É pelo prazer do sexo
que desalma e desanda
como por um orgasmo
e que ama ainda mais...

Abriga e descamba
longe do lúcido,
a razão-de-cego
puro-tato.

Além da alma,
viajem do corpo
pelo corpo
de outrém.

É onde se perde.
E ganha mais que o próprio,
reganha todos os sentidos.

Conotação versante-dançante da palavra
- subjetivação total da mente sinestésica.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pesadelo.

Daqui de cima tudo parece ironicamente mais claro.
O alto. O fim das papilas que são dor.
A droga que extasia o tempo nessa noite fria.
Mergulhado com os olhos numa meia-lua que dá as costas ao mundo.

A voz sonolenta do telefone não acolhe.
As janelas esparsadamente acesas dos apartamentos da cidade
riem debochosamente da uma aflição.
Sádica, a luminosidade de um deus que não existe.

Inclino-me prontamente para o mal da madrugada.
Uma brecha entre a anestesia do cômodo e a dificuldade de ação.
Sensação de vida morta!

Esse é o primeiro sonho consciente
de uma enxurrada, que atravessa desbancando por onde passa,
casas e morros e palavras inteiras.
Vai sujando todos os caminhos
com o rastro das minhas mãos sujas de sangue.

Desço o telhado para o desfecho da noite,
Deslumbro a lua, o céu, a dor,
Grito sozinho na cidade desmaiada em desvario.
Mas não consigo acordar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Farol amarelo.

É tarde pra uma segunda-feira.
Caminho. Pela história de tudo
A construção dessa Avenida
Ou dessa boate que frequentava aos 15.
Jazem sobre a superfície irregular do mundo.

É sem-forma
O espaço abstrato da fôrma
Onde se modelam meus pensamentos.
E estes surgem de um papelzinho amassado
Que tiro do bolso da calça
Nessa segunda-feira de madrugada.

Tudo tem sua história.
E a minha se faz, em meio à derrotas Pírricas
É um exagero. Vivo sempre intensamente.
Das penas que me agradam
E das chuvas que me banham.

É só um farol amarelo.
Onde não se sabe se vai ou se espera
É só metade do caminho...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Rascunho salvo at:

Dialetizando o enigmático da língua.

Please save me! O mundo está drowning, nos afogando...

Sufocando o que resta, do cérebro.
Brainstorm...

I want to scream, mas não consigo.

Misturando o útil ao agradável.

Problematizando o futuro...

O que restará de nós? Ou melhor, who?

Não há tradução para este tipo de pecado.

Ne pas de problème.

domingo, 16 de novembro de 2008

Louco mover

É esse som que me locomove.
Som de loucura, de trem, de avião;

O som dos loucos que se movem
Quando ninguém mais tem esse direito,
Só cavamos mais fundo na cidade.

É tudo mentira nesse formigueiro,
Contadas em cédulas de R$10.

E esquecemos da pele,
Dos olhares que se desencontram,
E ficam divididos pelas gotículas de chuva
Que escorrem pelas janelas dos ônibus.

Embaçam os faróis de trânsito
Que piscam a teoria do caos
Para motoristas que não mais se enxergam.

Mas algum dia a cidade se revolta.
Eu espero...

domingo, 9 de novembro de 2008

Cinza

O real e o não real da arte
A palavra. Subjetividade.
Somos todos subversivos.

Não atendo telefonemas.
Nem respondo cartas.
Num palco me resolvo...

Tenho levitado algumas vezes.
É o sangue que tem corrido mais rápido.
É o córrego de lágrimas.

Quem dá sentido pras coisas somos nós.
Queimo papéis. Não são pra mim...
Faço o mundo girar mais devagar.

Ainda gosto de subir em árvores...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eco mudo.

O eco ecoa seco.
surdo o eco preto soa
seco, surdo, mudo

Ecoa secamente o eco seco cortante
seca e asfixia ainda mais a garganta
há muito tempo seca e cerrada

O eco de tão seco não ecoa
seca a palavra cai pesada
na superfície enganada do papel seco

Por quais paredes de qual caverna se esconde o eco
que acaricia os prazeres do tempo
com suas mãos de cascalho

eco.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ansiedade de lua.

Recurso de halo
Lua de fel
Insólitos sonhos e poemas
De conversas que começam e terminam em nada.

Pleitos vazios de sim e de não
Litígio sobre o amor
E de como nos deixamos afetar
Pela sensível barreira da distância

Habitante da pronfunda complexidade de ser humano
Devaneando sobre a complexa profundeza de amar

Engulo a madrugada regada de lágrimas
Que afogam lembranças de prazer e gozo
E guardo estes anseios que me sacodem até a alma.

Esclarecimento

Recessão! O mundo surta calamidades econômicas, ambientais, sociais.
Caminhamos contra a parede (?)
Tamanho livro, peso, humano.
O asfalto nunca pesou tanto... Mas o movimento se sobrepõe ao tempo.

O ritmado compasso relógio
Marca o passo marca-passo do cotidiano da cidade doente
Que atinge fatalmente o peito ensanguentado
A tiro de bala de arma de fogo das favelas
Complexo reflexo da desorganisação social.

E continuamos esperando...

Até quando?
Na História está a força das divertidas derrotas...
E que fique claro que não tememos o que não nos é natural.
Porque ainda é proibido proibir, e tudo o que é pessoal continua sendo político!

A dedicação se volta, hoje, se não para trazer o sorriso de volta para a humanidade
O sorriso de quem o procura. Pois sempre estará aí, o ar que nos atiça a chama da vida.
E temos o fogo para queimarmos quantas bandeiras forem precisas.
E há paralelepípedos para barricadas. E há muita gaze para o sangue...

O que me intriga é se há ainda alguma dúvida, ou se tampouco faltam motivos,
Para acreditar que o Mundo está girando ao contrário do planeta...

Carros...

Vaga-lumes brancos do tráfego
de linho e de máquina,
da pura invenção do homem
em sombra de som
e amplificação do todo.

Ronronar de combustão imediata
pistão que explode em seu tempo de milésimo
em sobra da mais perfeita precisão.

Desloca-se a insignificante fragilidade humana...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Manhãs e mais.

Nada mais,
do que um poeta mergulhado em si
- num seu profundo ócio criativo -
contempla tanto além
de rosas findadas ao seu objetivo final, de murchar.

Muito mais,
do que uma textura matiz e suave
que absvorve para si toda luz em cor
e atravessa com infinito poder
uma íris distraída.

Sem mais,
existem palavras. E o que antes era cor, luz,
ou imaginação, ou pura ternura,
ocupa demais um coração,
e por isso tem necessidade de transbordar.

E jamais aquela rosa,
dotada da pura e única magia da existência,
será vista como apenas uma rosa.
Mas como uma colorida e intensa
e necessária tecedora de manhãs e poemas.

domingo, 12 de outubro de 2008

Madrugada.

Dado o poema como um bloco de mármore a ser esculpido.
O poeta usa a língua como sua ferramenta.

Num canto solto moderado
reflexivo compulsório da realidade moral.
É a verdade que o assusta. É o pensar o falar o resentir.
É o resignificado da coisa.
Seu céu é um espelho
e o poema o além.

O fundo verde emparedado que o cerca
porta-berimbau, pau, porta-chocalho
sacode o mundo chão, tapete torcido pelo passo
apressado, embriagado de incenso e perfume e saudade.

Potência em watt do mundo falando ao mesmo tempo
não o esquecerão, quando tudo for mais belo.
Uma simples estante suporta um breve conhecimento de todas as coisas.
Leciona maldade e alegria, alienado.

Já se foi o tempo dos sinais, é madrugada.
Volta no centro da cidade vazio musicada por Tchembo
num mundo de fragmentados desencantos.

Os pingos da chuva suavisam a densa madrugada
e encobrem suas fantasiosas quimeras fugidas
que continuam pensando os eternos filósofos que ninguém nunca vai ouvir falar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Direito

Mais um dia se passa...

Mais uma cidadania passa.
Mais uma cidade.
Mais uma.
Mais uma.

Mais um cidadão passa.
Mais um direito.
Direito.
Direto.

Envoltos em suor e sono,
as engrenagens da cidade
exercem seu último direito:
apaga a luz e dorme, apaga a luz e dorme, apaga a luz e some.

Ainda há...!

Peço-me a mim mesmo para escrever.
Como um poeta fluido, me desvanecer na brancura do papel.
Deixar tudo chover. E enfim desgastar a minha angústia,
agora então vivida.

Angústia com o real, com o que criamos, que asfixia, por saber que é nosso.
Com a teoria, que por assim ser, não é prática.
E mais tudo o que envolve essa fastidiosa noção

Num embalo festivo,
alço velas em direção a poesia, que ainda se forma em nuvem, acumula.
Que troveja, fugente, se mostrando de longe. Empunhando gravemente a alegria de toda gente.
Que ainda há de vingar...

E há de destruir tudo o que sufoca.
Há de diluir o desprezo, a náusea, o vômito.
Há de enfrentar a tediosa inércia que faz girar o planeta sob a sombra escandalosa do lucro!
E altivamente declarar a definitiva bancarrota do sofrimento...
Acabar com a angústia.
Que ainda há de findar...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Fluição.

Tenho alguns surtos, de alguns instantes
- espero que durem -
em que tudo se encaixa.
E escrevo sem pensar sobre todas as coisas.

Esqueço-me do que é coesão, sentido.
O que é continuidade? Isso aqui é emoção!
Canto, e tudo me agrada.
Só me falta sair saltitando a colher margaridas...

Nem a chuva, nem a hora - porque é tarde -
interrompem o processo de (des)criação nesses instantes.
Por isso não duram...Quanta insensibilidade ao meio!
Não sou assim...mas estou sendo. E estou gostando.

São surtos, são momentos
- apaixonantes de mim -
A poesia se faz, e brotam de todos os lados os poemas imaginativos.
O pensamento se esvai, e tudo flui...
A arte, o surto, o tempo e a vida.

Instantes.

Quero todas as palavras.
Porque hoje estou livre de crises.
A realidade não me assusta mais. E que isso dure pelo menos alguns instantes...
Hoje é tudo marasmo, paradeiro, pique-pique, alegria alegria.

Quero tudo o que é palavra. Quero vozes.
Quero toda a liberdade do mundo - se é que tal coisa exista.
Se não existir, quero eu como sou. Porque sou livre. Pelo menos nesses instantes...
Porque sou bicho, homem, cavalo, circo, céu e vida. Sou mais arte.

As palavras me querem.
Sussurram aos meus ouvidos, tanto que não consigo ouvi-las.
De tantas, me perco na escolha - porque já sou ruim nisso.
E escolho todas. Tudo que é som, signo, cor, sentimento.

Pois nunca fui tão cubista e estive tanto fora de um cubo...
Porque é tudo forma, é tudo palavra. E é tudo língua, porque é tudo pensamento.
E é tudo ego, alterego e superego. E nada de trio é tão chato.
Nada que enquadre é tão chato. Fora matemática...

Porque os números são palavras, quando quero que sejam.
Dois, sete, oito dezoito. E fiquem de lado os cálculos, me perdoem.
Hoje só quero palavras. E que sejam de aniversário vinte e seis de maio,
ou de festas do eu inteiro de branco trinta e um de dezembro. De todos os anos...

Hoje, eu já disse. Quero todas as palavras, porque elas me querem.
Quero todas as palavras livres, que façam a farra, sem forma cor ou conteúdo,
saltitando pelas mentes brilhantes, fezendo cabeças, poses, imagens, frutos, flores, folhas e rumos...

(Re)falado.

Já não compreendo mais
todo esse melodrama, toda prosa e poesia
e toda essa arte concebida sem vida.

Sejamos cubistas. Sejamos dadaístas.
Inventores do nosso próprio descaso.
Recaso. Inventores do nosso próprio falado.

Digo olá a forma. Brinco.
Brinco e flerto com ela,
que me desdiz pela fresta da virtualidade do monitor.

Cadê aqui a seta?
se (seta) ser (seta) só (seta)...
Refaço. Tudo envolto em círculo.

Libertemos o nosso cheiro de circo.
Nosso bafo de animal selvagem enjaulado,
com a cabeça do domador dentro da boca aberta...

É só querer.
A cabeça está aí para quem quiser usar.
A nossa e a de outros. Mas a arte. Há arte.
Tudo num círculo só.

Assim mesmo.

Sei que existem pensamentos inconclusos,
e espaço para que se construam.

Sei que existe loucura
no desabafo do espaço que se expande.

Sei que fico meio perdido,
e me confundo em minha própria imensidão.

E para que venho, será outra vida
refletindo os mesmos começos?

As mesmas pessoas
repetindo os mesmos erros?

Assim sou eu mesmo.
Mesmo que não saiba quem sou...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Esperança

Jogo sem pensar
As vezes me iludindo cegamente. Acredito.
Pelo menos conheço a minha própria loucura.

Sou humano,
e como tal, passível de erros.
Um grande nada de matéria,
carregado de complexidade e contradições.

Hoje eu penso no futuro, e espero.
Aguardo ansiosamente pelo sol de amanhã, pois agora fazem de tudo noite.
Cada gole da garrafa que eu bebo me sorve lentamente,
com certeza me aproveitando muito mais do que eu a ela.

O vinho, como sabe ser boa companhia,
compreende. E me envolve em acidez.
E faz bem quando amarga a minha boca,
quando tudo a volta é amargura. E ninguém é menos amargo.

Não quero soar depressivo. Não o sou.
As palavras são. Quando tomadas pela razão.

E a razão, como dizem, é indubitável:
ninguém se opõe a ela.
Então, nesse caminho certeiro para a verdade absoluta,
busco a luz, procuro sair dessa amarga ilusão
de que se esperarmos a flor brotará do asfalto sozinha.

Ou pelo menos tento crer, que se ela brotar,
ainda há esperança.
Ainda há esperança de que os que movem esse fluxo de metal e aço,
aqueles que fazem a noite,
sejam sábios o suficiente e abram espaço
para a deixar crescer.

Nada escrito.

Hoje, nada me agrada.

Nem o som que irrompe pelo lado de fora da janela,
nem o que vem de dentro.
A cama na qual eu me deito não acolhe o quanto eu preciso.
As toalhas mal passadas não secam mais esta água que não molha.

Na verdade, nenhum caminho me leva pra onde quero.
A rosa não se parece como eu a vejo...
Nada é como é, e eu não sou como sou,
Porque hoje nada faz sentido. E aqui dentro tudo é frio.

As palavras, nas quais eu confio, deformam todos os seus benignos sentidos ao serem escritas,
e o sentido que elas têm dentro de mim, não é o que elas deveriam ter. Ou é,
porque assim o tem.
Meu corpo não responde aos estímulos do cérebro, e este já não sabe o que faz.

As roupas já não vestem sem que nos façam nos sentirmos presos.
Nenhuma maquiagem embeleza, para espelhos que não refletem nada além.
Para espelhos que nem refletem, tudo parou.
Os relógios, que aguardam minutos que guardam infinitas possibilidades de ações paranóicas,
se despedaçaram em milhares de esperanças.

E fora de mim matérias implodem sem emoção.
O mundo que existe lá fora, não é como deveria ser, e
o ser humano se torna cada vez menos humano.
Os cursos que são ministrados em todas as áreas não ensinam o que se imagina,
porque a própria imaginação já não é mais livremente imaginável.

As críticas não têm efeito algum porque não são mais as que atingem.
Os movimentos não conseguem mais o que querem, pois não mais são movimentados.

A comida causa mais fome.
A água causa mais sede.
As guerras são as únicas que salvam a alma
e a paz nos destrói.

As vozes que nunca deveriam ter sido ouvidas, não mais o são,
e envelhecem. Jazem em profundos dos papéis amarelos.

E eu, como sou normal, e para não sair da rotina
que já não é cotidiana, porque os dias já não existem,
escrevo. Mesmo sabendo que não escrevi nada.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Desse canto.

Busca...

Eterna correria atrás de um pouco de paz!

Enquanto brincam de dividir o mundo
sob fronteiras, sob leis específicas a tudo o que cabe,
eu tenho que produzir...
Mas sou produzido.

Tal como um produto da máquina de moldar gente.

Apenas quando consigo, por tempo
- que nos falta -
ou por vontade
- quando se sente livre para isso -
me reproduzo no meu ínfimo caderno de papel reciclado.
(porque ecologia está na moda).

Me sinto no extremo.
No canto extremo do mundo,
isolado pela cartografia e largado por aí,
destinado a mim e a gente como eu,
que somos tão diferentes de outros humanos.
- mudamos o nosso ideal de normalidade...

Talvez eu seja humano demais.
Talvez eu seja um tanto desumano.
Talvez eu viva num mundo de loucos
- cada um diferente do outro.

Frenéticos de cabeça baixa,
quando passam por você, alienados
nem percebem.
Pois é tudo sempre passagem.
É tudo passageiro.
- somos todos...

Parte de um processo inacabável
Onde todos - inabaláveis - realizam sua função.

Função. Palavra mais funcional...
- e no fundo não funciona nada.

Esqueço-me do sentido.

Entre sentidos e sentidas,
mas muito sentido mesmo,
equilibro-me na corda bamba.

A roupa centrifuga-se na máquina;
Máquinas que lavam os homens,
Homens que nascem nus,
Nascem nus e vivem engarrafados.

Meninos e Meninas,
Brincam de amarelinha,
E pulam corda nas ruas.

Ah, mas eu me pergunto...
Será que se lembrarão disso no futuro?
- eles nem pensam sobre o futuro.
Será que serão sempre donos das mãos divertidas que batem a corda?

Assim eu fico:
A olhar e olhar o album de fotografias,
fotos de uma eterna nostalgia...
Uma velha partida de futebol;
Uma poltrona velha em que se afunda nas vagas sombras da memória;
Um avô, um herói, um colo. Um sorriso...
Sempre um sorriso.

Olho sentado o eterno sentido
nunca antes tão bem sentido
desse poema sem sentido.

Perdido em saudade, deitado sobre lembranças, escondido por entre tristezas...

Mas que pra mim faz todo o sentido.