quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Beijo

Beijo. Semântica do desejo
de um acúmulo real ou fracionado de saudade
e mais desejo. Outro beijo.
Chove-bota-coloca, e deposita e canta
mais uma proposta-proporção,
e ainda uma porção de mais e mais beijos.

E mais me cabe toda a vida no seguinte momento,
de desencosta de lábio e de abertura de olho,
que calha ainda de ser verdade e não sonho,
a miscigenação completa de sinfonias e poemas
que palpitam latejantes em folia-e-dança
compondo odes de impossível e contígua absorção.

É esse seu olhar que me assenta.
Em verdade, me acosta e recosta,
e encosta e inquieta. Desse olhar profundo
em que se perdem, denso, as todas galáxias de todos os universos.
E que isso representem em todo um único homem - mais ainda, eu.
Que, fundo, se abafa, e recala e não se cabe de consumir
d'onde submergem invasões de um sem fim de sensibilidade.
É ainda um bel-prazer, de infinita veleidade de aspiração e gosto;

Desse reparo-contemplado, salta afável, custoso brió.
E que te custa mostrar, cheiosa de mistério
coisa de nenhum segredo - porque desvendo e descalo antecipadamente.
Sussurro de sigiloso enigma, paira silêncio confidencioso,
sobre clima dezembreiro de emblemático calor e mais mistério,
em pouca luz e vento, corre um deitoso cochicho, que me aborda e abrange
e aconchega e abriga você como nunca tão perto.

Têm poder as palavras; e mais ainda as de Eros;
(porque é deus e porque é poderoso - e porque somos frágeis a qualquer cupido).
Quando deixa ser vista e quando viajam de você os seus demais signos
se emana e flui tudo o que a Química ainda não explica.
Se epiloga, em absurda capacidade de soma,
um absorto relicário de mais de mundos de sensações
que se expressam em três vocábulos,
que talvez traduzissem mais que esse inteiro poema.

2 comentários:

Carol Monique disse...

Beijo. Tradução de muitos sentimentos e idealizações, em uma linguagem ímpar e compreensível apenas para os envolvidos no mesmo pensamento.

Beijo. Chama que flameja entre duas almas próximas que se formam intrinsecamente até não existir diferença entre elas.

Beijo. Dói, esmaga e desarma qualquer tentativa de adeus. Tanto o primeiro como o ultimo como se fossem únicos, reflexos de momentos que nunca voltarão.

Beijo. Apenas e tudo em um só ato. O que nos mata e faz viver, a cura e o veneno.

Sempre ótima estrutura linguística.
Nada mais a declarar ou acrescer, apenas sentir em cada frase o que se quis dizer.

Monique, primavera de 2008.

rafaj disse...

Lindo.

"Apenas e tudo em um só ato."
e como a poesia...