quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A última imagem da noite chuvosa, uma xícara de chá ou um patuá abandonado onde guardo todos os meus segredos, esquecidos, desvividos, um acrílico colorido ou um jade neozelandês. O mundo desacontece num quadro de Kandinsky, como um universo de tons e sobretons de rosa e rosa cor-nenhuma, algo de azul sobre a mesa do jantar e um amarelo velho que chama para a porta um novo cômodo, igual a este e outro igual àquele, e um novo e ainda outro. Sinto-me às vezes cativo para o fato que nos acordam os livros fantásticos, do quão fantástico para eles deve ser a realidade... É engraçado que não escrevo nunca exatamente o que penso, mas sempre algo que desperta com o que tinha pensado em escrever, que é uma recusa de mim mesmo, e por tanto nunca tenho propriedade exata do que penso ou escrevo ou ambos. Tenho medo (e ao mesmo tempo vontade) de jamais pertencer ao que foi escrito. Deixar que a vida própria do texto aconteça por si só, e vamos.

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