quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Três prosas para a insônia.

Suspendo o fôlego para adentrar a eternidade de um instante. Beijo-te. E é como amar-te, porque amo-te e o beijo é como a semântica que dá sentido a tudo que não é amor. E é como desenhar infindos pontilhados rabiscos tintas ao ar ao chão ao teto, paredes de Kandinsky nos rodeiam ou tendem ao infinito, a matéria perde seu significante para se tornar significado autoexplicativo com tons de absoluto.

Lá fora venta e chove e faz frio, comparado ao calor das cobertas, mas é verão. O mundo está realmente mudado, e nem ainda temos idade o suficiente para relembrar com propriedade, ou ao menos estilo, dos "velhos tempos". Apenas precariamente nos afirmamos na história, nem temos pegadas sobre o mundo, estamos em uma ou duas fotografias digitalizadas integradas comercializadas, e já nos enganamos e perdemos sentidos que quiçá um dia tivemos. As cobertas dão sensação de útero, sua língua cordão-umbilical salva-me resolve-me abraça-me, num beijo de raiz das terras, que volve-me ao antes, acalma o necessário nervoso dos amanheceres e dos jornais, cala a lágrima vermelha do pôr-do-sol. E pensar que já me esqueci do antes e não vou me lembrar do depois, caso o depois tenha o porque de ser, ou desista de tudo como a melodia de Schoemberg.
« O mundo está realmente mudado, o mundo está mudo »

O que me assusta é a reação das pessoas, nem de compaixão nem de medo, uma reação reação, somente isto, como isto sem aquilo isto isto mesmo como é e tem de ser porque é assim e será. Acho perigoso pensar sobre isso às vezes e me censuro, calado e escondido na trincheira de uma minúscula xícara de café, bem forte e escuro, como as manhãs e os jornais, e também as pessoas. Outras vezes decido gritar, pulo a xícara, o café, as manhãs e os jornais, mas, às vezes não alcanço as pessoas, que não pulam não ficam nem sequer deitam para dormir um sono tão profundo.

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