quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sobre cãos e vira-latas.

Eu e os cachorros de rua
nessa alvorada, nesse caçada
por alguma lata, uma lata que seja
alguma viralata abandonada
para lhe roubarmos a alma.
Te escondo a minha comida
o meu berço - não quero que penses
que um dia fui criança -
Seguramos na corda do alpinista
e subimos com ele para o alto
e além do alto e morremos
muito sôfregamente no além do alto.
Vinícius, tu que me reviras como lixo
tu poeta, como gostas, me come no café da manhã.
Eu que sou feito de muito pão e suor,
e na verdade muito cuidado e carinho,
como tu um monstro da delicadeza,
e de singular beleza me esquivo
de olhos esguios que me fecundam,
nos sonhos uma mulher me fecunda.
Ela que no mundo me achou, eu
que sou o seu viralatinha
ensopado de uma realidade banal
cansado, muito cansado.
Regado por influências da última lua,
amanheço o dia antes do relógio acordar
e abro o céu como se fosse o tecido
daquele a quem chamam deus,
o psiquiatra infrio do mundo, incruel e insensível,
e criador de seitas que exploram em seu nome.

Nessa madrugada que já é mais que clara,
e mais que dia embora madrugada
janto-lhe os braços e as pernas, oh poeta,
oh muher, oh deus!
Janto-lhe os versos Vinícius,
janto-lhe o emaranhado dos cabelos de gozo mulher, muito mulher,
janto-lhe os pecados deus,
e janto-me a minha eterna e brusca poesia.

Um comentário:

Mayra Donini disse...

"Regado por influências da última lua,
amanheço o dia antes do relógio acordar
e abro o céu como se fosse o tecido
daquele a quem chamam deus,
o psiquiatra infrio do mundo, incruel e insensível,
e criador de seitas que exploram em seu nome."

O topo dos meus escritores favoritos muda cada dia mais rápido... Parabéns!!