domingo, 9 de agosto de 2009

Poeta e leitor da despedida.

O que é o crescimento senão a despedida

E o que é a despedida senão o sonho
a casa vazia e um beijo roxo
como aquele do livro empoeirado
empoleirado na prateleira gasta
pela mensagem do tempo que se materializa
em bolinhas nas roupas mais antigas.
Como esse olhar que fica espraiado
espalhado pela superfície do rosto molhado
por lágrimas que não têm, difíceis e ingênuas,
que não é choro de tristeza ou alegria,
mas um pranto lírico que é o parto das palavras
que alguém chamou Maiêutica.

A despedida cria palavras.

E o crescer é sempre uma coisa nova
como dor de alongamento, estica
uma distância de nós mesmos para então nos tornarmos outro
que é nós mesmos mais ainda, desconhecido...
Crescer é um choro sem lágrimas.

Crescer é um pensamento que não pára
é como uma paranóia humana, um desalento
desatino vez ou outra uma comédia
droga e remédio, é causa e consequência
de sermos nós mesmos.

Crescer é um medo de sermos nós mesmos.

E sermos nós mesmos é ser uma lagoa toda crepúsculo,
toda noite, toda água, toda universo.
Toda espelho para quem vê do lado de fora,
como pertencimento,
mas toda profundidade pra quem vê do lado de dentro,
como existir.

É ser poeta e leitor da nossa própria poesia que é a vida.

2 comentários:

Mayra Donini disse...

A cada novo poema você se revela mais... Não sei se por pretensão, mas consigo te sentir, te ouvir, nos ouvir... dentro da atmosfera do seu quarto exatamente como a sinto...
Esse me deixou sem palavras!!

Mayra Donini disse...

Perdão pela pessoalidade da leitura, mas já disse que inevitavel...